Mulheres Ameaçadas - Conheça os 18 deputados que aprovaram em Comissão da Câmara a proibição total do aborto até mesmo quando há risco de vida para a mãe.

As mulheres brasileiras não podem permitir que os autores e cúmplices deste projeto assassino voltem à Câmara dos Deputados. Compartilhem!
Segue o link, do site "The Intercept Brasil", para a lista dos 18 deputados, seus respectivos partidos e Estados.

A denúncia da trama que se passa na Câmara e no Senado acha-se detalhada em artigo recente de Rosiska Darcy de Oliveira, republicado aqui neste Blog.

Oscar Niemeyer

                                                                       
Companheiro das lutas pela democracia
e por um mundo melhor, arquiteto incomparável, 
por ocasião dos 110 anos de seu nascimento.
Dezembro 2017, Sergio Augusto de Moraes                                                       

           Não é o ângulo reto que me atrai
          Nem a linha reta, dura, inflexível,
                                    criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual,
    A curva que encontro nas montanhas
                                                do meu país,
                   no curso sinuoso de seus rios,
                                       nas ondas do mar,
                   no corpo da mulher preferida.
              De curvas é feito todo o universo,

                     O universo curvo de Einstein

A liberdade e a dignidade das mulheres

O sentimento que a iniciativa , denunciada por Rosiska Darcy de Oliveira, provoca, é de repúdio a esta proposta. Toda mulher deve conhecer, divulgar e tomar uma atitude.
Zelda Torres
Dezembro - 2017

Rosiska Darcy de Oliveira

A liberdade e a dignidade das mulheres


As mulheres brasileiras entraram numa espécie de máquina do tempo que só anda para trás. Proposta de emenda constitucional proibindo todos os tipos de aborto, mesmo os hoje amparados pelo Código Penal, inserida sorrateiramente em projeto de lei favorável às mulheres, foi aprovada por uma Comissão Especial da Câmara de Deputados. Iniciativa similar tramita no Senado.
Há mais de 30 anos vimos escrevendo sobre o problema da interrupção voluntária da gravidez. Denunciamos à exaustão a clandestinidade imposta pela criminalização, tragédia que leva aos hospitais milhares de mulheres, com sequelas de mais de um milhão de abortos feitos a cada ano. Apesar disso, elas continuam, na segunda década do século XXI, sujeitas a um Código Penal de 1940 que só autoriza o aborto nos casos de estupro ou de risco de vida para a mãe. Depois de dura luta nos tribunais foi assegurado, recentemente, o direito de interromper a gravidez de fetos anencefálicos.
O STF, em sintonia com a sociedade, está em boa hora discutindo o direito das mulheres de interromper uma gravidez indesejada até o terceiro mês de gestação.
No Congresso Nacional, atropelando o Direito e a Ciência, bancadas de obediência religiosa sempre foram as responsáveis por esse estado de coisas, desumano, que impõe a todas as mulheres um diktat que afeta diretamente as mais pobres, as que sofrem e morrem porque não têm como abortar senão em condições sórdidas.
Semanas atrás, 18 deputados, contrariando o voto solitário da única mulher membro da comissão especial, resolveram ir ainda mais longe, proibindo a interrupção voluntária da gravidez mesmo em caso de risco de vida para mãe. A vida de uma mulher para esses senhores não vale nada, o corpo feminino é um simples instrumento de reprodução, desprovido de vontade ou direitos. Senão, como passaria pela cabeça de alguém, em nome de uma suposta defesa da vida, propor essa lei assassina?
Uma segunda violência que resulta desta proposta é o imperativo legal de levar a termo uma gravidez resultante de estupro. A lei condena mulheres de todas as idades, inclusive adolescentes, vítimas de uma violência sexual que, em si, já é uma forma de morte, a carregar no corpo e na alma a sequela dessa violência.
Como mulher, afirmo, não teria havido força humana que me obrigasse a ter o filho de um estuprador. Só uma espantosa insensibilidade moral pode pretender impor tamanha violação da dignidade das mulheres. Ter ainda que argumentar contra essa aberração é humilhante. Por quem se tomam esses senhores que ousam ditar as escolhas mais íntimas das mulheres? Que se arrogam o direito de editar sentenças de morte ou de opróbrio? Em que século, em que país pensam que vivem?
O clima que se criou no Congresso Nacional tem um cheiro forte do fundamentalismo que lapida as “infiéis” e castiga as “impuras”. Suspeito que o que moveu os parlamentares a aprovar essa PEC não tenha sido a suposta defesa da vida, como alegam, e sim um inconfesso ou inconsciente ódio às mulheres.
No Brasil em que as mulheres cada vez mais sustentam suas famílias, elas sabem se defender e vão se defender. Ninguém as obrigará contra a sua vontade a morrer ou a carregar para sempre a sequela da mais brutal agressão sexual. Nem a sofrer a tortura de gestar por nove meses um feto inviável. Por que, então, essa insistência sádica em torturá-las, expondo-as ao desamparo e ao desespero?
O presidente da Câmara prometeu não colocar a proposta em votação no plenário a menos que dela se retire a expressão “desde a concepção”, que proibiria o aborto em quaisquer circunstâncias. Ver para crer. No balcão de negócios em que o Congresso Nacional se transformou, se a emenda for levada à votação, tudo pode acontecer.
Minhas esperanças voltam-se para o Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição da República e dos direitos do cidadão. O ministro Luís Roberto Barroso, em conferência pronunciada na Academia Brasileira de Letras, afirmou que nenhuma mulher deve ser obrigada a ter um filho do Código Penal, frase digna de sua formação humanista.
É inconcebível que o STF venha a permitir que se implante aqui, por obra e graça de um Congresso que perdeu a confiança e o respeito da população, uma lei infame que nos faz retroceder aos anos 30, viola os direitos das mulheres e os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil na Conferencia Mundial sobre as Mulheres em Pequim. O Supremo Tribunal Federal, em defesa da liberdade e dignidade das mulheres, não haverá de convalidar tamanha abjeção.

Rosiska Darcy de Oliveira é escritora (Publicado em O Globo, 02/12/2017)

Poemeto : Não é facil

Num dia como o de hoje, entre renúncias e afirmações no campo democrático, os bons ventos parecem dizer: não tiremos coelhos da cartola.
                                        
                                            Sergio Augusto de Moraes
                                            Novembro 2017      

NÃO É FACIL

Difícil é sair dos polos
Pelo centro, pelos lados
Difícil construir
Uma outra alternativa
Democrática, limpa, coletiva
Sem mágica, sem cobiça
Com nosso barro, já testado
Nas lides da política, do Estado
Não o barro do vizinho
Panela se faz com o nosso
Com as mãos sujas do torno
E a cabeça de nós todos.

Santana - Brotherhood

O melhor do rock.
Uma visão do mundo fraterno que sonhamos!
Santana - Philadelphia USA - 1985

Brotherhood...
All around - sweet brotherhood
No more us and them 
Oneness
No more politics or denominations

Brotherhood

No more war, violence, or pain

Compassion

In brotherhood, we'll find
Joy.................Dynamism
Sweetness......Softness
Soulfulness....Dignity
Tranquility.....Serenity
Harmony.......Perfection
Harmony.......Perfection
One mind!
One truth!

A seguir, o link para o vídeo.

SANTANA - LIVE AID - PHILADELPHIA - 1985




Comunistas e Católicos

No próximo dia 18/11/17 Giocondo Dias faria 104 anos. Da direção do PCB, o Partidão como era conhecido, ele foi o maior responsável  pela mudança da orientação política do Partido contida  na Declaração de Março de 1958 e pela aprovação da linha política de resistência democrática  à ditadura de 1964. Em 1982 foi eleito  secretário-geral  do PCB. Morreu em 07/09/1987.
Dias escreveu o texto abaixo há trinta e seis anos. Hoje a intervenção política conjunta de comunistas e católicos, de marxistas e cristãos, não só no Brasil como no mundo  ampliou-se muito e reflete-se com força nos escritos e discursos do Papa Francisco.(Sergio Augusto de Moraes ,Novembro de 2017)

COMUNISTAS E CATÓLICOS : DO CONFRONTO AO DIÁLOGO*
                                                                                            Giocondo Dias       
Historicamente as relações entre comunistas e católicos revestiram-se de um caráter tenso em extremo: na prática social , uma larga coincidência de reivindicações  era obscurecida  por mútuo sectarismo  e dogmatizada por questões de princípio invocadas indevidamente.
A convergência de requisições de grande significado- fraternidade, justiça social, solidarismo - desaparecia  em face de inoportunos apelos ao passado histórico da Igreja Católica, por parte dos comunistas, e de um falso dimensionamento dos erros destes em conjunturas particulares, do lado dos católicos. E a real incompatibilidade filosófica entre marxismo e qualquer gênero de teísmo  era transformada  em antagonismo político-social  entre os dois interlocutores.

Leandro Konder - uma lembrança

Alfredo Maciel da Silveira
Novembro/2017
Neste 12 de novembro completam-se três anos da partida de Leandro Konder. Nesta oportunidade torno pública uma relíquia dele que eu guardara desde 1982. Ele datilografara para mim suas anotações manuscritas sobre as esparsas e rarefeitas elaborações de Karl Marx sobre a conceituação de comunismo.
Não tínhamos maior proximidade. Talvez me conhecesse apenas de vista.
Durante uma conferência no auditório da ABI sobre o pensamento de K. Marx ele expusera sua leitura daquela conceituação em Marx. Logo me dei conta da singela e valiosíssima pesquisa de Leandro. A ele me dirigi ao final, pedindo-lhe que me desse a referência do texto. Mostrou-me que eram rascunhos à mão e me disse com imensa generosidade:
__ Seria possível a gente se encontrar lá no meu trabalho? Você podendo eu preparo melhor e bato à máquina.
Marcado o encontro fui ao seu trabalho na rua 1º de Março, em horário de almoço. Ele ainda terminava de datilografar as últimas linhas. Em seguida me entregou os originais das duas folhas (vejam as imagens, amareladas pelos anos) saídas daquelas antigas máquinas mecânicas de fita carbonada.




Rússia 1917 - Um outro olhar

Alfredo Maciel da Silveira
Novembro/2017
Neste 7 de novembro completaram-se os 100 anos da revolução russa. Teria ela culminado uma sucessão de abalos políticos ao longo de 1917, explicáveis como um fenômeno russo isolado?
Na verdade ela só pode ser compreendida em seu contexto mais amplo. A Rússia de 1917 fora o epicentro da cadeia de terremotos políticos que varreram os países centrais do capitalismo europeu na virada entre os séculos XIX e XX.
Um capitalismo que entrara em sua fase monopolista e financeira, de feroz competição pela disputa de mercados e acesso a fontes de suprimento, o que culminara com a primeira guerra mundial, traduzida na luta entre países pela anexação de territórios e submissão de povos. Ao par disso, aquele era um capitalismo sem controle das crises cíclicas geradoras do desemprego e da miséria, sem a regulação do trabalho e sem quaisquer mecanismos de proteção social. E a guerra, propagandeada em nome do "interesse" e do orgulho nacionais, lançava o povo trabalhador à morte nos campos de batalha, levando à fome e a destruição de famílias nas cidades e nos campos.
Concomitantemente desenvolvera-se a organização dos trabalhadores em sindicatos, partidos social-democratas de base operária e partidos de base camponesa. No caso da Rússia disseminara-se a inovação dos conselhos de trabalhadores, os sovietes, de base profissional, comunal, de fábricas, de seções militares, etc. E no plano do conhecimento social e político a obra de Karl Marx e F. Engels, destacadamente "O Capital", tornara-se a referência dos estudos e discussões da intelectualidade revolucionária. Tal é o ambiente europeu ocidental em que toda uma geração de militantes russos emigrados, refugiados da perseguição tzarista, gestará organizações russas de vanguarda de múltiplas tendências.

Tecnologia e Sociedade: a máquina a vapor*

Sergio Augusto de Moraes
Novembro/2017
                
Quem inventou a máquina a vapor? Qualquer engenheiro ou um estudante mais curioso responderia de pronto que foi James Watt na Inglaterra, aí pela segunda metade do século XVIII. Entretanto poucos sabem que Watt, ao projetar e construir um condensador em separado no ano de 1765, estava contribuindo para dar um salto no rendimento das máquinas a vapor que alguns anos antes haviam sido desenvolvidas por outros técnicos.
De fato em 1698 Thomas Savery, também na Inglaterra, constrói sua “máquina de fogo” e poucos anos depois se associa a Thomas Newcomen para construir uma máquina a vapor capaz de retirar água das minas inglesas de carvão e de estanho. A partir daí Watt deu o pulo e construiu a máquina que iria marcar a primeira revolução industrial.
Mas o que intriga é saber que, mais provavelmente entre os anos 10 e 70 DC, Heron de Alexandria havia construído uma máquina a vapor que continha quase todos os elementos da máquina que Thomas Savery iria construir dezesseis séculos depois. Porque a humanidade deveria esperar todo esse tempo para retomar o desenvolvimento tecnológico de uma máquina capaz de potenciar o trabalho humano de maneira tão radical? 
Claro, faltavam uns poucos conhecimentos básicos para aperfeiçoar a máquina de Heron tornando-a mais eficiente. Provavelmente ele ainda não conhecia o valor da pressão atmosférica, número identificado por Torricelli em 1644. Mas quem pode garantir que os discípulos de Heron, com os recursos do império romano, não poderiam desenvolver e tornar eficiente a turbina a vapor que o grande sábio havia construído?
Como sempre, quando se tenta entender a história antiga, aparecem lacunas que não podemos ainda explicar. Entretanto uma coisa é certa: o império romano havia sido construído com base no trabalho escravo e a sua maneira de potenciar o trabalho humano era conquistar novos povos e escravizá-los. Não podia passar pela cabeça dos poderosos que dirigiam Roma o desenvolvimento de uma máquina que dispensasse o trabalho escravo. Seria como chutar contra seu próprio gol.
Assim, foram as relações sociais sobre as quais se assentava aquela sociedade a mais forte razão que impediu o desenvolvimento da máquina a vapor de Heron. E o preço que a humanidade pagou por isso foi incomensurável.
Pergunta que não quer calar: que consequências teve o freio imposto pelas velhas relações de produção na Russia sobre o desenvolvimento da revolução de 1917?
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(*) primeira versão publicada no Jornal do Clube de Engenharia nº 506. Texto revisto e ampliado em Outubro de 2017.  

"Voo da galinha" preocupa empresário

O mote desta breve entrevista do presidente da Abimaq José Velloso Dias Cardoso é a relação do baixo investimento da indústria com as altas taxas de juros reais no Brasil. Por consequência, segundo o entrevistado, alem da baixa produtividade do trabalho, a insustentabilidade - "voo da galinha" - da recuperação da economia.
"Isso desencoraja investimentos e condena o País a ter um atraso tecnológico inalcançável com os outros países. Neste ano, devemos ter uma taxa de investimento de apenas 15% do PIB. A média mundial está acima de 25%. O não investimento de hoje é o não crescimento de amanhã. Corremos o risco de ter, mais uma vez, um voo de galinha".
Uma ressalva ao menos. O problema da elevação da taxa de investimento, de fato crucial para o crescimento sustentável, vai muito alem dos reclamos da indústria. Mas vá lá. Menos mal que empresários estejam questionando a efetividade da atual política econômica.
Segue a entrevista, publicada originalmente na edição 1040 da revista Isto É Dinheiro.
Por que a produtividade brasileira é menor do que a grande maioria dos países industrializados ou em desenvolvimento?
A afirmação de que o trabalhador brasileiro é menos produtivo do que a média mundial está distorcida. O problema não está apenas na questão da qualificação ou jornada dos brasileiros. A questão envolve a baixíssima taxa de investimento da indústria. Os estudos mais recentes mostram que o americano é quatro vezes mais produtivo do que o brasileiro. Mas essa constatação não leva em conta que a indústria dos Estados Unidos investe em sua produção US$ 300, em média, para cada trabalhador, por ano. No Brasil, esse investimento é de US$ 60. Ou seja, o americano é mais produtivo porque tem maquinário e tecnologias mais avançadas para aumentar sua produtividade.
Por que o investimento é tão baixo no Brasil?
Por diversos fatores. Um deles é a Selic alta. No histórico dos últimos governos, com a taxa de juros entre 15% e 20%, ninguém investe. Se deixar o dinheiro parado no banco o retorno é alto e garantido. Em vez de investir, é melhor comprar títulos do Tesouro. Então, para estimular o investimento é preciso rever os critérios de definição da Selic.
Mas a Selic está caindo…
Está porque a inflação despencou. Os juros reais, a diferença entre a inflação e a Selic, continua como a mais alta do mundo. Isso desencoraja investimentos e condena o País a ter um atraso tecnológico inalcançável com os outros países. Neste ano, devemos ter uma taxa de investimento de apenas 15% do PIB. A média mundial está acima de 25%. O não investimento de hoje é o não crescimento de amanhã. Corremos o risco de ter, mais uma vez, um voo de galinha.

A DEMOCRACIA SOB ATAQUE

Joana Pessoa, Historiadora
Ricardo Pessoa, Bancário Aposentado


“A democracia é a melhor entre todas as formas possíveis de governo, ainda que seja capaz de apresentar problemas de toda espécie, como promessas demais, muitas das quais descumpridas. Existe a corrupção. Mas a democracia é muito valiosa e precisamos reformá-la e protegê-la dela própria. É muito ruim que a maior economia do mundo, que é também a mais antiga democracia moderna, esteja nas mãos de um populista. Na Europa, a direita também está em ascensão. Por trás disso tudo está, infelizmente, a estagnação econômica. As pessoas ficam furiosas. Nesse estado, elas se tornam demagogas”.(Entrevista de Adrian Wooldridge, ‘O Estado inteligente’, Publicado em VEJA de 18 de outubro de 2017, edição nº 2552)
Na esteira do colapso do Bloco Socialista (representado pela queda do Muro de Berlim em 1989 e pelo fim da União Soviética em dezembro de 1991), assistimos ao fortalecimento do neoliberalismo, consubstanciado no chamado “consenso de Washington”, e cujos principais expoentes foram o presidente Ronald Reagan (1981/1989) e a primeira-ministra Margareth Thatcher (1979/1990).

Nos anos 80 vimos declinar, em grande parte do mundo, a influência da ideologia socializante. Essa tendência pode ser claramente observada no enfraquecimento das políticas voltadas para a criação de um Estado de Bem Estar – decorrente de pacto social-democrata que vigeu em toda Europa desde o fim da II Grande Guerra Mundial -, o que redundou em privatizações, maior competitividade, perda de diversas conquistas sociais e estímulos ao livre mercado.

Já com a crise de 2007/8 é o neoliberalismo que entra em xeque, apresentado um quadro de permanente turbulência nos mercados financeiros e altas taxas de desemprego, cenário agravado com a crise dos refugiados. É nesse novo contexto que nos deparamos com o crescimento do populismo.

A "Veja" e a Revolução Russa de 1917

                                                                                                       Sergio Augusto de Moraes
                                                                                                                              Outubro de 2017    
Como sabemos a revista “Veja” é propriedade de uma empresa capitalista. Portanto seria ingenuidade esperar que sua ampla cobertura dos 100 anos da Revolução Russa de outubro de 1917 , feita na edição de 11/10/2017, fizesse um balanço positivo de seu desenvolvimento e do percurso de sua maior criação, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas(URSS), extinta em 1991.
Dessa cobertura o artigo mais instigante é o de Daniel A. Reis, historiador conhecido como de esquerda, que conclui com as seguintes palavras “Esse é o desafio que se coloca para uma eventual reinvenção do socialismo no século XXI- voltar a associar socialismo a democracia. Só assim ele  terá condições de prosperar como alternativa”.
Se tomarmos esta tese ao pé da letra estamos de acordo com o historiador. Mas não avançaremos se não assinalarmos aquilo que está no fundo, os fatos que impediram ou dificultaram tal associação. No meu entender o mais importante foi o que esta tese de Marx revela: “...uma organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter ; nunca relações de produção novas e superiores se lhe substituem antes que as condições materiais de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade” (1).

A união indispensável

Desta vez Marco Aurélio Nogueira lança um verdadeiro manifesto, conclamando os democratas a romperem o impasse em que se encontram. Desvelar a força contida em sua unidade superando diferenças menores diante da crise política. 
Duas postagens anteriores neste blog, "O primeiro passo", julho/2017, e "As forças democráticas diante do amanhã", agosto/2017, alusivas respectivamente a dois artigos do mesmo autor encadeiam com o presente texto sua visão sobre o lugar das forças democráticas na presente conjuntura. Segue o artigo publicado no Estadão em 21/10/2017

A união indispensável

Democratas de todos os partidos e quadrantes, uni-vos! Vocês nada têm a perder a não ser os grilhões que os aprisionam ao atraso, à inoperância, à demagogia. Têm um mundo a conquistar: um país mais justo, mais dinâmico, menos atropelado pelas estripulias obscenas de corruptos e aproveitadores, bem como dos que exploram a ingenuidade política das multidões.
A paráfrase da célebre conclusão do Manifesto de Marx e Engels serve para indicar o caminho das pedras que os brasileiros devem seguir. Não há meio termo, atalhos alternativos. A estrada pode não levar de imediato a um novo mundo, mas se quisermos ter chances reais de futuro é por ela que teremos de trafegar.
Reúnam-se todos, liberais, socialistas, comunistas, ex-comunistas, liberais-socialistas, conservadores liberais, negros e brancos, a galera LGBT, ambientalistas e ecologistas, católicos, umbandistas e evangélicos. Façam com que importe menos o que os divide e deixem tremular mais alto a bandeira da democracia, que generosamente os abrigará a todos.

Por ocasião do 50º aniversário da morte de Ernesto Che Guevara

“Caballero errante de los caballeros, (…) noble peregrino de los peregrinos, que santificaste todos los caminos, con el paso augusto de tu heroicidad, contra las certezas, contra las conciencias, y contra las leyes y contra las ciencias, contra la mentira, contra la verdad. (...) Que de fuerza alientas y de ensueños vistes, coronado de áureo yelmo de ilusión, que nadie ha podido vencer todavía, por la adarga al brazo, toda fantasía, y la lanza en ristre, toda corazón!”

Versos do poema Letanía de Nuestro Señor Don Quijote, do poeta nicaraguense Rubén Dario, que Ernesto Che Guevara trazia anotado consigo em sua mochila na Bolívia no dia da sua prisão e fuzilamento em 09 de outubro de 1967.

A circunstância em que tal trecho do poema de Rubén Dario foi encontrado indica que o Che estava se vendo como um Don Quixote do século XX (Sergio Augusto de Moraes).
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Do poema “Dentro da noite veloz” de Ferreira Gullar (após a morte do Che)

Ernesto Che Guevara
Teu fim está perto
Não basta estar certo
Pra vencer a batalha

Ernesto Che Guevara
entrega-te à prisão
não basta ter razão
pra não morrer de bala

Ernesto Che Guevara
não estejas iludido
a bala entra em teu corpo
como em qualquer bandido

Ernesto Che Guevara
por que lutas ainda?
a batalha está finda
antes que o dia acabe

Ernesto Che Guevara
é chegada a tua hora
e o povo ignora
se por ele lutavas 

Construir uma alternativa democrática

Em artigo publicado no O Estado de São de Paulo em 02/10/17, o Superintendente Executivo da Fundação FHC, Sérgio Fausto, acredita que, embora (no Brasil) “... o centro político esteja desarrumado, num quadro de alta fragmentação partidária, sem uma candidatura à Presidência que prevaleça naturalmente sobre as demais alternativas”, ainda é tempo de se “ ... evitar o pesadelo de uma escolha de Sofia entre uma direita truculenta e uma esquerda populista.” Abaixo a íntegra do artigo:

AINDA É TEMPO. Sergio Fausto*

Na Argentina o centro político se consolida. E no Brasil, para onde vamos?

A eleição de outubro na Argentina será um teste decisivo para o governo de Mauricio Macri. Está em jogo quase metade das cadeiras da Câmara e um terço do Senado. As pesquisas indicam que Cambiemos, a coalizão de partidos que apoia Macri, vencerá nos principais colégios eleitorais do país. Provavelmente a vitória não lhe dará maioria, mas o presidente ampliará em muito sua bancada nas duas Casas do Congresso. Com seu principal adversário abatido, o kirchnerismo, e sem uma oposição alternativa de peso, Macri evitará o destino de todos os presidentes derrotados nas eleições de meio de mandato (tornar-se um “pato manco”) e se projetará como favorito às eleições presidenciais de 2019. Trata-se de um fato inédito: pela primeira vez na Argentina, desde o surgimento do peronismo, um presidente não peronista chegará ao fim de seu mandato. E mais, com chances de se reeleger.

Um imenso tribunal

O sociólogo Luiz Werneck Vianna (PUC-RJ), em artigo no Estadão - 1/10/2017- analisa o risco de crise institucional com o seu método de análise da formação histórica da civilização brasileira.
"(...) a especificidade da civilização brasileira se caracterizava em pôr antagonismos em equilíbrio(...)Aqui, a tradição e o arcaico têm convivido com o moderno e a modernização, e temos sabido tirar proveito dessa ambiguidade para forjar nossa civilização".
"(...) Banir ou suspender a atividade política a pretexto de moralizá-la é nos deixar no vácuo, entregues a um governo de juízes ou a uma recaída num governo militar, e esse é um desastre com que contamos tempo para evitar".
Segue a íntegra.

Um imenso tribunal

Em outros tempos bicudos, não tão distantes desses que aí estão, celebrado poeta popular lançou a profecia de que, no andar da carruagem em que nos encontrávamos, iríamos tornar-nos um imenso Portugal. A predição não se cumpriu. Aliás, Portugal está muito bem, e as reviravoltas do destino nos conduziram a um lugar de fato maligno, convertendo-nos num imenso tribunal. Vítimas da nossa própria imprevidência, testemunhamos sem reagir a lenta degradação do nosso sistema político – salvo quando o Parlamento introduziu uma cláusula de barreira a fim de evitar uma malsã proliferação de partidos, a maior parte deles destituída de ideias e de alma, barrada por uma intervenção de fundo populista por parte do Supremo Tribunal.

Bill Gates quer acabar com o capitalismo

Sergio Augusto de Moraes
Outubro/2017
                                                                                                                                                                    
Já que o dono da Microsoft, uma das maiores empresas capitalistas do mundo, não é maluco, a conclusão que pode ser tirada do que diz é que ele tem uma interpretação singular do funcionamento do sistema.
A revista “Exame” de 13/09/2017 relata que Lawrence Summers , ex-secretário de Tesouro americano declarou que “...existem sinais de que agora, com os avanços da robótica e da inteligência artificial, a “destruição criativa” não seja suficiente para suprir os empregos perdidos. ”Não é uma possibilidade futura e hipotética. É algo que está se manifestando diante de nós hoje” diz o ex-secretário.

Pós Trump - uma sociedade americana ainda mais dividida?

"Muitos progressistas pensam que os problemas acabarão quando Trump sair da Casa Branca. Não é verdade. A divisão e a radicalização que está criando terão consequências graves(...)".
O correspondente Henrique Gomes Batista (O Globo, 1/10/2017) ouviu especialistas que já anteveem o aprofundamento das divisões da sociedade norte americana exacerbadas pelo personalismo grosseiro e antipolítico do Presidente.

Democracia em risco – o alerta de Sergio Abranches


Muito se tem falado nesta semana sobre as manifestações públicas de militares em meio a sinais de crise político-institucional. Numa visão histórica em seu artigo "Sinais institucionais da gravidade da crise política" Sergio Abranches desmascara os desastres das intervenções militares e recapitula as duras lições das crises político-institucionais na história da República. Prospecta os riscos presentes, mas em conclusão antevê o caminho democrático ainda possível:

"(...) Em todas as crises houve clara subestimação dos sinais de deterioração da ordem democrática, tanto pelas autoridades constituídas, quanto pelas lideranças que não participavam das conspirações que levaram à sua dissolução(...)".
"(...)Não creio que estejamos na iminência de um novo golpe militar, ou mesmo civil-militar. Mas existe um perigo claro e presente de falência das instituições com gravíssimas repercussões para o futuro imediato do país. Em 2018, teremos a oportunidade de buscar uma solução democrática para essa crise. Mas dependerá das possibilidades de elegermos uma nova liderança, para o Executivo e o Legislativo, que não esteja envolvida na rede de corrupção, nos esforços para acobertar os escândalos ou nas tentativas de interromper as investigações e obstruir a justiça".(Sergio Abranches)

Chile - Três depoimentos sobre o 11 de setembro de 1973

Um outro 11 de setembro

Ferreira Gullar
Folha de São Paulo, 17 de dezembro de 2006
Ao ouvir Allende rogar às pessoas que saíssem às ruas, soube que seus dias estavam contados.

Quando cheguei a Santiago do Chile, em maio de 1973, vindo de Moscou, encontrei o país praticamente parado por uma greve de transportes que só terminaria na tarde do dia 11 de setembro, após consumado o golpe militar que derrubara Allende. Falava-se que a embaixada norte-americana financiava os caminhoneiros, com cinco dólares por cabeça, o que não era pouco, uma vez que eu pagava dois dólares pelo aluguel de um apartamento duplex de três quartos, na avenida Providência; a inflação galopante pulverizara o peso chileno. Agora, com a morte do general Pinochet, a memória me faz reviver aqueles dias avassaladores.

Coreia: cronologia e riscos da escalada das tensões

Ricardo Pessoa da Silva
Bancário Aposentado

A assinatura do Armistício de Panmunjeom, em 27/07/1953, pôs fim ao conflito armado que opôs (desde 25/06/1950) a Coreia do Norte, a China e a URSS à Coreia do Sul e outros países (Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, etc) capitaneados pelos Estados Unidos. Desde então a península coreana tem experimentado relativa estabilidade, não obstante o clima de tensão que, em maior ou menor grau, tem prevalecido entre os dois países.

TRAVESSIA E ARMADILHAS

                                                         Sergio Augusto de Moraes
    Setembro  de 2017

     Parece que nestes tempos o povo, enojado com a corrupção que grassou no Brasil e castigado pela crise, virou as costas para o mundo político e apenas aguarda 2018 para tentar uma solução. Fazer deste modo tal travessia contém várias armadilhas. Uma delas é deixar que a polarização Lula-Bolsonaro cresça e chegue a outubro do próximo ano como a alternativa mais forte, o que, dentre outros males, elevaria o  absenteísmo, o voto nulo e em branco a patamares nunca antes atingidos. Outra é deixar espaço  para o Governo Temer e o Legislativo,  juntos, empurrados pelo que têm de pior, anulem o trabalho da Lava-Jato.

As forças democráticas diante do amanhã


Do artigo de Marco Aurélio Nogueira, "A segunda chance de Temer" (Estadão 3/08/2017), quanto à presente desarticulação do campo democrático:


"(...)Temer não ficará sangrando em céu aberto, ainda que parte de suas vísceras estejam expostas. Pesará nada em sua sucessão, com poder zero para influenciá-la. Há uma interrogação flutuando sobre ele: como chegará até o fim? Lula tem imensos problemas e até os passarinhos do Planalto sabem que sua eventual candidatura é mais um problema que uma solução, inclusive para ele próprio. Bolsonaro segue em busca de um partido e de uma plataforma civilizada, fazendo o possível para cortejar a direita, os ressentidos e os incautos. Tucanos estão em revoada, sem saber em que galho pousar. E Marina está, por enquanto, em fase de aquecimento(...)".
"(...)A vasta e pouco estruturada área democrática do país permanece na expectativa, em stand-by, sem saber o que lhe reservará o dia de amanhã".

Renovação, Propostas e Diálogo


Fabio Giambiagi, em seu artigo "A hora da Política" (O Globo, 1/08/2017) propõe um encaminhamento para a organização das forças democráticas face aos embates que se avizinham com as eleições de 2018.

"(...)Neste imenso espaço territorial convivem todo tipo de credos, empresários, trabalhadores, entidades patronais, sindicatos, fortíssimos grupos de pressão encastelados na administração pública, a Igreja como instituição, uma profusão de grupos defensores do meio ambiente, diversas correntes de opinião, uma mídia cada vez mais atuante, etc. Quem julgar que poderá conduzir essa espécie de “Arca de Noé” da diversidade que é o Brasil na base, pura e simplesmente no grito, está redondamente enganado. Não haverá saídas para o País, no atual contexto, baseadas em soluções autoritárias ou messiânicas(...)".

"(...)Não há como, numa democracia, haver progresso sem diálogo entre as forças políticas. Para o bem do país, precisamos que as próximas eleições tragam três novidades. Primeiro, uma renovação da classe dirigente, com o surgimento de lideranças que estejam isentas dos vícios daquelas que estão sendo “varridas” pelos efeitos da Lava-Jato. Segundo, um debate efetivo de propostas, e não o marketing vazio das últimas campanhas eleitorais. E, terceiro, capacidade de diálogo entre as principais forças que resultarem do pleito eleitoral. Há uma enorme massa de cidadãos que clama por isso".



O Primeiro Passo


Alfredo Maciel da Silveira - Julho/2017


Há de haver saída. Positiva, democrática, para a crise social e política de dimensão histórica em que brasileiros estamos perigosamente atolados.

O primeiro passo é reconhecer sem subterfúgios, sem nenhuma ilusão ou ingenuidade, os riscos imediatos a que estamos expostos enquanto sociedade.

Não se trata de capitular diante das "fraquezas", diante das reiteradas e bem conhecidas tradições autoritárias, elitistas, excludentes, patrimonialistas, clientelistas, dependentes, de nossa formação econômica e social. Nem diante de fenômenos negativos novos tendo, numa das faces, um capitalismo selvagem e sua emergente burguesia predadora, anti-republicana e, noutra face, um lumpen proletariado sempre receptivo às mais perversas bandeiras populistas e fascistas.

Forças da renovação certamente já estão presentes como potenciais herdeiras das lições, da cultura, dos avanços institucionais e das conquistas das lutas democráticas.

Em recente artigo publicado no Estadão,"O País Possível", Marco Aurélio Nogueira nos oferece justamente aquele primeiro passo, rasgando toda e qualquer fantasia, desnudando impiedosamente o tamanho dos riscos que nos cercam nestas eleições de 2018 que já se aproximam. Não deixa pedra sobre pedra.

Mas neste seu indispensável texto M. Aurélio descortina o campo do debate e da ação das forças democráticas e republicanas, a requerer a elaboração de um programa mínimo que possa uni-las com vistas às eleições de 2018.




A Revolução Russa de 1917 - Erros, Acertos e Ensinamentos

Sergio Augusto de Moraes
Julho 2017

Muito se falou da Revolução de 1917 na Rússia. Hoje quase exclusivamente fala-se mal, em especial nas grandes mídias, sempre a serviço do grande capital. Mas também se fala mal em boa parte daquilo que se conhece como esquerda. Esquerda?

Já que estamos falando de revolução me permito uma citação de alguém que estudou seriamente o assunto: 
...uma organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter; nunca relações de produção novas e superiores se lhe substituem antes que as condições materiais de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade(1).
Alguém duvida que Lênin e os dirigentes da revolução de 1917 conheciam de cor e salteado esta tese de Marx? Que eles sabiam que no seio da sociedade russa daquela época não existiam “condições materiais” para que “relações de produção novas” surgissem? Mas, por contraditório que possa parecer surgiram condições políticas. E o partido mais preparado para assumir o poder era o partido bolchevique (comunista).

A época histórica. Fim da história?

Alfredo Maciel da Silveira
Julho 2017

Desde os fins do século XX generalizou-se o senso comum de que o capitalismo "venceu" a disputa com o socialismo. Pensadores à direita do espectro político então propugnaram a tese do "fim da história". Já pelo lado da esquerda grassou e ainda grassa o desapontamento com o socialismo, que "não deu certo" , que "não funciona".

Os males do capitalismo todavia se reproduzem agora com força avassaladora em meio à acelerada reestruturação produtiva na nova escala da globalização. E o reconhecimento desses males - por exemplo suas crises cíclicas, concentração da riqueza, critério privado de alocação dos recursos, exclusão social, anarquia da produção, populações em fuga da fome e das guerras, desequilíbrios ambientais - está longe de ser exclusividade de um pensamento crítico marxista. O mesmo se pode dizer quanto às propostas de políticas mitigadoras daqueles males, apontando até para reformas tendencialmente anticapitalistas, formuladas por insuspeitas instituições e líderes empresariais, ícones do capitalismo contemporâneo.

Crise da Música

João Cezar Pierobon
Julho 2017

A velha ordem, como a denomina Arthur M. Schlesinger Jr, desabou na esteira da Grande Depressão, que se iniciou ao final dos anos 1920, e veio justo no período de sua crise que ele localiza entre os anos de 1919 e 1933. A crise da velha ordem da música, talvez numa ousada antecipação, teve o seu começo antes, nas fronteiras entre os séculos XIX e XX, nos estertores do movimento romântico. O mundo da razão começava a dar a sua medida. Roland de Candé, na sua História Universal da Música (Martins Fontes), dá algumas pistas sobre o início da crise da velha ordem musical. A coisa começou sobre o que se entendia ser consonância e dissonância entre dois sons simultâneos. O intervalo, que é a diferença de frequência entre esses dois sons, medida pelo quociente de suas frequências, então seria consonante ou dissonante. Por que um intervalo seria consonante, ou belo, e outro, dissonante, algo áspero, seria feio? Qual o ouvido absoluto que poderia julgar sobre a beleza, ou feiura, de um dado intervalo, ou acorde? E o efeito do timbre, ou vozes em polifonia ou homofonia? Um dado intervalo seria dissonante em um instrumento, e em outro seria consonante? Schubert, Schumann, Chopin e Liszt não estiveram nem aí para essa história. Então emanciparam a dissonância. Como deixar de achar belas certas composições de Debussy que usou e abusou de acordes dissonantes? Há poesias musicais dele que são flores envoltas por névoas sob a intensa lua azul no céu da noite. São doçuras sonoras. Mas, como soe acontecer, fizeram o diabo. Houve dissonâncias e mais dissonâncias, verdadeiras esculturas musicais da monotonia. Um mundo plano, igual,  sem mudança de cor. Houve até mesmo música do silêncio. Como um quadro branco diante do qual alguns exegetas dão chiliques de êxtases. Então veio Harold Bloom e disse: “tudo desmoronou, o centro não resistiu, e a pura e simples anarquia se desencadeia sobre o que, antes, se chamava mundo culto.” ( O Cânone Ocidental, Objetiva).  

Canto das Três Raças

Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro

Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil
Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou

Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou

Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou

E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor

ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô

ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô

E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador

Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor

As incertezas

         
A sentença ( de Moro sobre Lula) aumenta a incerteza sobre as eleições de 2018. Apesar do cerco judicial, o ex-presidente havia voltado a crescer nas pesquisas. Hoje ele lidera com folga todas as simulações, com 30% das intenções de voto. Se a condenação for confirmada em segunda instância, a lei da Ficha Limpa deve impedi-lo de concorrer.

O cenário sem Lula é desalentador para a esquerda. O PT não tem outro candidato viável, e Ciro Gomes enfrenta desconfiança pelo histórico de vaivém partidário. Marina Silva poderia ocupar o espaço vazio, mas seu apoio a Aécio Neves em 2014 tende a afastar os órfãos do lulismo.


Bernardo Mello Franco, na Folha de S.P., em 13/07/17


Digo, desalentador para a esquerda se o PT insistir no seu desvio hegemonista, pois o caminho para uma aliança de centro-esquerda está agora mais aberto que nunca.(Sergio Augusto de Moraes)



Sobre a REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917

Uma revolução perdida?

                                      Prof. Airton de Albuquerque Queiroz
Economia - UFF - agosto 2017
                                                 


                                                    
Eu não acho que a Revolução Russa de 1917 tenha sido perdida, como se dela nada restasse, a não ser dores e penas.

Apesar do grande número de perdas de vidas, o que é difícil de se evitar, em se tratando de revoluções, eu não acho que os eventos de 1917 e posteriores tenham somente fatos a lamentar.

Pode não ter alcançado seu objetivo teórico, a construção do Comunismo, mas isso foi mais do que pressentido pelos líderes daquela revolução, uma vez que, não só na Alemanha desenvolvida (para os termos da época), como igualmente em outros países de capitalismo avançado, não houve a tomada de poder pelo proletariado, condição que todos eles julgavam indispensável para construção de uma alternativa socialista sem as dores sofridas e erros cometidos.

Os dirigentes da revolução russa não tiveram outra alternativa, senão tentar avançar com a revolução na Rússia, isoladamente e militarizando o país, uma vez que, foram obrigados a enfrentar o “exército branco” doméstico e o "cordão sanitário" de 14 potências que lhes invadiram o território, enquanto davam os primeiros passos para a construção do novo regime, para o qual não se dispunha de nenhuma "receita de bolo", num país ainda grandemente atrasado e feudal.

Embora na História, não se trabalhe com "se,s", mas, imaginem que os regimes nazi-fascistas tivessem se desenvolvido e empreendessem a guerra contra o "capitalismo liberal" e não houvesse a potente União Soviética a lhes impor a pesada derrota de Stalingrado, seguida pela sucessão de vitórias até chegar a Berlin, só para ficar num exemplo, como não poderia estar hoje o mundo ?

A história da Revolução de 1917 e das conquistas dos povos soviéticos, são um manancial imenso que marcou e marca ainda hoje a humanidade, em diversos sentidos.
Para mim, apesar de todos os pesares, o saldo é altamente positivo.

Viva o Centenário Vermelho!