Vida e morte do corona virus

Maio/2020
Até agora a trágica experiência da humanidade com a pandemia do Covid 19 aponta para três fatores importantes.
Primeiro, que na sua origem está a voraz, irresponsável e dominante relação do homem com a natureza. O vírus que vem dizimando centenas de milhares de pessoas passou para o homem através de animais que, expulsos do seu habitat natural, invadiram as cidades e seus habitantes. Dito em outros termos o planeta não suporta mais um crescimento econômico semelhante ao praticado nos EEUU e em outros países industrializados.
Segundo, que dentre os mais atingidos pela doença estão os mais pobres e, dentre estes, os mais velhos. Novamente o crescimento econômico observado nos últimos tempos apontado acima tem uma característica medular que contribui para o quadro desolador que assistimos: ele é concentrador de renda e gerador das enormes desigualdades observadas em países como o nosso.
Em terceiro lugar o ensinamento é que para transitar para outra economia há que se mudar o sistema de saúde, da prevalência do particular para outro onde o atendimento público e gratuito seja o dominante.
Corona vírus em Nova York, EUA
Foto: Michael Appleton/Mayoral Photography Office
Em todo o mundo milhares de intelectuais e cientistas, ao mesmo tempo em que trabalham para salvar vidas, estão pensando em outra sociedade onde outros Covid não venham aparecer nem fazer os estragos que hoje assistimos.
Abaixo transcrevemos o resumo de um exemplo de proposição destas, recentemente elaborado por 170 acadêmicos holandeses.
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Holandeses avançam no cenário pós-pandemia e propõem um modelo econômico baseado no decrescimento*

Compartilhamos o curto e claro manifesto com o qual acadêmicos holandeses propõem uma mudança do paradigma econômico mundial depois da crise da pandemia.
A nota é publicada por El Clarín, Chile, 27-04-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Aparentemente a Holanda é o país que com mais força está tomando o desafio de reestruturar sua economia a partir do que nos vivemos no presente. Nesse contexto, 170 acadêmicos holandeses escreveram um manifesto em cinco pontos para a mudança econômica pós-crise da covid-19, baseado nos princípios do decrescimento:
1. Passar de uma economia focada no crescimento do PIB , a diferenciar entre setores que podem crescer e requerem investimentos (setores públicos críticos, energias limpas, educação, saúde) e setores que devem decrescer radicalmente (petróleo, gás, mineração, publicidade, etc.).
2.Construir uma estrutura econômica baseada na redistribuição. Que estabelece uma renda básica universal, um sistema universal de serviços públicos, um forte imposto sobre a renda, ao lucro e à riqueza, horários de trabalho reduzidos e trabalhos compartilhados, e que reconhece os trabalhos de cuidado.
3.Transformar a agricultura para uma regenerativa. Baseada na conservação da biodiversidade, sustentável e baseada em produção local e vegetariana, ademais de condições de emprego e salário justas.
4. Reduzir o consumo e as viagens. Com uma drástica mudança de viagens luxuosas e de consumo desenfreado, a um consumo e viagens básicas, necessárias, sustentáveis e satisfatórias.
5. Cancelamento da dívida. Especialmente de trabalhadores e donos de pequenos negócios, assim como de países do Sul Global (tanto a dívida a países como a instituições financeiras internacionais).
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(*)Publicado originariamente por IHU em 29-04-2020,