Neste artigo, Luiz Carlos Azedo expõe algumas das dificuldades para a convergência entre candidaturas democráticas à Presidência da República em 2018. Propõe como via de entendimento a busca de um programa mínimo, do qual esboça alguns delineamentos. Vê ao fundo a crise das relações Estado-Sociedade em seu contexto internacional, por si só explicativa de perplexidades dos formuladores de políticas neste início do século XXI. Mas a ela se acrescentam a crise do Estado brasileiro e o imenso atraso socioeconômico do país, a demandarem formulação programática e estratégica.
As articulações políticas tem seu ritmo e calendário. Mas aproxima-se a hora do entendimento e do diálogo no seio das forças democráticas.
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O mal-estar eleitoral
Luiz Carlos Azedo
Correio Brasiliense, 14/01/2018
O
ambiente “líquido” da disputa eleitoral fragmenta ainda mais os interesses da
maioria e nenhum nome se apresenta como alternativa à radicalização.
Um
dos grandes fatores de incerteza na conjuntura política é a ausência de um
projeto de país no debate eleitoral que se inicia. Outro, o fato de que o
Estado brasileiro está em crise, com o fracasso das políticas públicas e uma
crise de financiamento cuja conta está sendo toda pendurada no sistema de
Previdência.
Ao mesmo tempo em que os políticos e seus partidos não oferecem uma alternativa convincente e motivadora para a situação, a Operação Lava-Jato revelou para a sociedade que o financiamento da política — e o enriquecimento pessoal de seus principais operadores — era feito por meio do desvio ilegal de recursos, que deveriam ter ido para escolas, hospitais, estradas, metrôs, etc.
É impossível evitar o enorme mal-estar instalado na sociedade, com o agravante de que isso está sendo potencializado por outros fenômenos que não são uma exclusividade brasileira. No mundo inteiro, o Estado perdeu sua referência. O que era moderno e sólido, organizado, produtor de justiça e provedor da qualidade de vida das pessoas está se desmanchando no ar. Como assinalou o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (O mal-estar da pós-modernidade, Zahar), o Estado na pós-modernidade perdeu o poder para o mercado livre, perdeu o propósito de sua existência. Quanto maior, mais atrapalha. O Estado tornou-se uma empresa ineficiente.