Quem ganhou?


Sergio Augusto de Moraes
Agosto de 2018

Todos os meios de divulgação têm discutido quem ganhou o primeiro debate entre os candidatos a presidente nas próximas eleições. Muitos discutem também quem se saiu melhor na rodada que a Globo News fez, poucos dias antes, entre os principais candidatos.
Não somente isto. Empresas de consultoria rodam em computadores seus modelos matemáticos, fazem pesquisas para detectar as curvas representativas de aprovação ou desaprovação de cada candidato, divulgam cenários e probabilidades de vitória deste ou daquele ou de quem vai para o segundo turno.
Rede Bandeirantes - Debate dos candidatos à Presidência - 9 de agosto de 2018
Poucos se lembram que há alguns meses atrás a dúvida sobre a realização ou não das eleições atormentava a maioria dos democratas. A Operação Lava-Jato atingia quase todos os partidos, provocando uma repulsa generalizada da população à classe política. Neste caldo de cultura um general, apoiado por alguns outros, fazia declarações que prenunciavam uma intervenção das FFAA para por “ordem” no país, obrigando o chefe do exército a intervir de público em defesa das atuais instituições democráticas.
Não era só da direita que provinham os ataques a estas instituições. Desde o impedimento de Dilma Roussef o PT e alguns de seus aliados não poupam esforços para levantar a população contra aquelas, apostando na interrupção do processo democrático previsto em lei e na formação de um outro governo, que atendesse aos seus interesses. Tal esforço atingiu seu ápice em cinco de abril passado quando o ex-presidente Lula tentou montar um bunker no Sindicato de Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, para resistir à prisão decretada pela justiça. E tudo indica que tal projeto, apesar de perder força, continua na agenda do PT.
Porém não há que nutrir ilusões. O eleitorado de classe média e de pequena parcela do empresariado que vota em Bolsonaro faz uso das eleições instrumentalmente. Para eles, a vitória do ex-capitão sinalizaria legitimar uma "intervençãozinha" militar, com uma fachada legal. Ingenuamente, para muitos, seria temporária e "democrática", crença que aliás acontecera em 1964, "contra a corrupção e a subversão", com os trágicos resultados que todos conhecem. Eles já não creem no saneamento do sistema político pelas vias institucionais democráticas vigentes. É por isso que pouco se importam com a flagrante incompetência caricatural do candidato. Não esperam que ele discuta quaisquer projetos racionais para o país.
Mas a resistência das forças democráticas e da maioria da população não permitiu, até agora, que medrassem quaisquer destas alternativas. Particularmente depois do início da campanha eleitoral pela televisão, quando o povo desperta para a política, começa a discutir seus candidatos preferidos, a probabilidade de qualquer solução ilegal reduziu-se muito. E a partir de hoje, com o registro e análise das candidaturas e o começo da campanha de rua, o jogo ficará mais claro.
Até agora quem ganhou não foi nenhum dos candidatos. Foi a democracia.