O Pôquer de Bolsonaro

Alfredo Maciel da Silveira
Abril-2020
Os humanos não podem ler os pensamentos uns dos outros. Nem por isso deixamos de praticar o pôquer, o xadrez, jogos estratégicos em geral, a começar pelos de guerras reais.
Todos os analistas de economia e de política estão perplexos com a lentidão com que o governo federal encaminha as medidas emergenciais de proteção social já aprovadas pelo Congresso e autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Em paralelo, Bolsonaro não tem escolha, a não ser declarar concordância com elas. Um blefe?


A todo momento insufla o desrespeito ao isolamento social, ameaça demitir o Min. Mandetta, e até aposta num decreto liberatório daquele isolamento, mesmo já advertido de sua provável inconstitucionalidade. E declara esperar “pelo povo”...
Editoriais da imprensa nesta sexta feira 3 de abril acham tudo isso “incompreensível”. Colunistas de política antevêem uma “crise institucional” se Bolsonaro avançar em suas ameaças.
Ora, ninguém até agora, ninguém que se saiba, levantou a hipótese da intencionalidade de Bolsonaro em postergar os pagamentos da proteção social emergencial!
Penso que ele o faz com a ajuda do Guedes. Por que o Guedes tirou da cartola a necessidade da PEC? Por que Bolsonaro ameaça a toda hora liberar as medidas de isolamento social?
Não por acaso, o Rodrigo Maia bancou o desafio. E o Congresso está aprovando a PEC em tempo recorde, em votação não presencial! E por ser uma PEC, não dependerá de sanção presidencial!
Isolado, e vendo derreter seu projeto autoritário, anti-democrático, de “poder-pelo-poder”, só resta a Bolsonaro a revolta popular pela fome!...
Ele ainda poderá ter os black-bozo-blocs saídos das cavernas virtuais para as ruas a insuflarem os saques às lojas, etc...
Mas haveria só um intervalo de tempo, uma " janela de oportunidade" para esta abominável aposta: teria que ser antes dos cadáveres nas ruas...

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Publicado originariamente na Página do Facebook "Esquerda Democrática", 3-04-2020.