Chile - Três depoimentos sobre o 11 de setembro de 1973

Um outro 11 de setembro

Ferreira Gullar
Folha de São Paulo, 17 de dezembro de 2006
Ao ouvir Allende rogar às pessoas que saíssem às ruas, soube que seus dias estavam contados.

Quando cheguei a Santiago do Chile, em maio de 1973, vindo de Moscou, encontrei o país praticamente parado por uma greve de transportes que só terminaria na tarde do dia 11 de setembro, após consumado o golpe militar que derrubara Allende. Falava-se que a embaixada norte-americana financiava os caminhoneiros, com cinco dólares por cabeça, o que não era pouco, uma vez que eu pagava dois dólares pelo aluguel de um apartamento duplex de três quartos, na avenida Providência; a inflação galopante pulverizara o peso chileno. Agora, com a morte do general Pinochet, a memória me faz reviver aqueles dias avassaladores.