Miriam nos traz uma bela
contribuição ao revelar alguns lados do escuro período que Bolsonaro insiste em
dizer róseo. Em acréscimo poderia talvez ser dito que não só a negação do
passado mas principalmente a sua distorção sempre serviu a fins escusos,
estranhos à democracia. A seguir o artigo.
Negar o passado como arma política*
Miriam Leitão
Dezembro 2018
As frequentes declarações do
presidente eleito, Jair Bolsonaro, de que não houve ditadura seguem um padrão
conhecido. A negação sempre foi arma política e usada por qualquer campo, e
muito útil para esconder os crimes de períodos autoritários. Lembrar as datas,
por sua vez, é parte do conjunto de vacinas contra a repetição dos mesmos
erros. Tentações autoritárias sempre espreitaram a democracia.
O brilhante advogado Técio Lins
e Silva era um jovem concluindo o curso de Direito e não pôde colar grau. A festa
foi impedida pelo AI-5, que fechou o Teatro Municipal. Qual o problema de uma
turma da icônica Faculdade Nacional de Direito fazer seu congraçamento? Qual o
risco que representa o histórico Teatro Municipal? O Ato Institucional espalhou
abusos e irracionalidades.
Em um artigo escrito
recentemente, ainda não publicado, a escritora Heloisa Starling busca Hannah
Arendt e o livro “As origens do totalitarismo” para lembrar como a negação da
verdade é arma conhecida. “A mentira, diz Arendt, consiste em negar, reescrever
e alterar fatos, até mesmo diante dos próprios olhos daqueles que testemunharam
esses mesmos fatos”, escreveu Heloisa.
Então não há inocência nas
declarações sequenciais dadas pelo presidente eleito e seu grupo. “Não houve
‘ditadura militar’ no Brasil! Mentiram para você, jovem!”, escreveu Bolsonaro
em um twitter. Em entrevistas: “Foi uma intervenção democrática”, “o povo
brasileiro não sabe o que é ditadura ainda”. São abundantes, frequentes,
disseminadas.
Os dados e os fatos também são
abundantes. A imprensa trouxe algumas estatísticas nos últimos dias. O “Estado
de S. Paulo” contou que foram 950 peças de teatro censuradas, 500 filmes, 500
letras de música. E se quiserem mais números, houve 400 mortos, 20 mil
torturados, 7.000 exilados. O Congresso foi fechado duas vezes após o Ato.
Há o cotidiano daquele tempo
que foi o mais duro dentro da ditadura, a década da vigência do AI-5. Quem
conta é Técio:
— Qualquer pessoa que tenha um
mínimo de conhecimento da vida sabe o que é não ter habeas corpus. Impedir que
o advogado possa se valer desse instrumento extraordinário para conter a
violência e o abuso de poder. A primeira coisa que o AI-5 fez foi suspendê-lo,
e tínhamos que ser advogados na Justiça Militar sem habeas corpus. Quando
ouvíamos de uma autoridade militar que aquele preso era um ‘perigoso
subversivo’ já era um salvo-conduto para a vida, porque quando diziam ‘não tem
ninguém aqui com esse nome’, aí as coisas eram muito duras, porque era sintoma
de que aquela pessoa corria risco de desaparecer.
Rubens Paiva desapareceu no dia
20 de janeiro de 1971. Sem acusação formada, sem militância, o empresário e
ex-deputado foi preso pela Aeronáutica, entregue depois ao Batalhão da Polícia
do Exército na rua Barão de Mesquita, na Tijuca. Nunca mais foi visto. Sua
mulher Euníce Paiva começa então um doloroso, longo e impressionante processo
de superação. Ela, uma dona de casa com cinco filhos, sem qualquer envolvimento
político, ao sair da prisão, onde esteve por alguns dias, inicia uma luta em
várias frentes. Cria sozinha os cinco filhos, volta à Universidade, faz
Direito, integra-se à luta das famílias de desaparecidos políticos, vira uma
das líderes do movimento da Anistia e das Diretas. Eunice morreu na
quinta-feira, 13 de dezembro, no dia em que o AI-5 fazia 50 anos, numa
coincidência simbólica.
Para a direita brasileira seria
mais inteligente governar defendendo valores democráticos e implantando
políticas públicas nas quais acredita. Mas a direita que chega ao poder prefere
defender o indefensável daquele regime e, assim, se misturar ao pior dele. A
negação do passado sempre foi arma política. O difícil é entender com que
objetivo é usada agora e que vantagem traz para o governo Bolsonaro.
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(*) Publicado originariamente em "O Globo" - 16/12/2018
Pois é, agora que a criatura se vira para o criador...
ResponderExcluirO cultivo é livre, mas a colheita vem como obrigação.
Bom dia.
ResponderExcluirSe superou sem dúvida,nem paresse a Miriam Leitão que conhecemos.Quem sabe se durante as eleições,tivesse tido essa mesma coragem não teria ajudado a não eleger esse coiso,que chamam de mito.Simples assim.
Sempre viveremos em regimes,ou ditadura militar ou ditadura política,só vivemos na ilusão de democracia,temos só deveres,e os poucos direitos ignorados.
ResponderExcluirEu tenho certeza que a "DEMOCRACIA DO PT"
ResponderExcluirMatou milhares de pessoas a mais, que o regime militar.
Na verdade eu com 68 anos ainda não vi um governo, que não cobrasse tanto do povo, e distribuidor uma miséria, pois trabalho desde meus 10 anos, e nunca dependo, quase nada de parte do governo, agora sei que ajudei a tirar o PT, do seu trono, vamos ver como vai ser o governo Bolsonaro, se não for bom, nós do povo já aprendemos como fazer para trocar de novo.
Povo !
ResponderExcluirDona Miriam Porcao acho que ta na hora de repensar sua vida profissional e voltar a assaltar bancos
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