"É o quinto país do mundo em morte violenta de mulheres. Doze crimes de ódio contra mulheres é a média diária no Brasil. O número de estupros em 2017 chegou a 60 mil, crescimento de 8,4 % acima do ano anterior. Números oficiais existem porque há décadas as mulheres brasileiras lutam para serem cidadãs. Graças a elas, temos a Lei Maria da Penha. Continuarão a lutar, apostando na democracia brasileira e no Estado laico. O massacre contra elas desafia a sociedade, o governo e a ministra".
Rosiska Darcy de Oliveira |
A ministra e as mulheres*
Rosiska Darcy de Oliveira**
Dezembro 2018
Eleito em pleito democrático, o
presidente Bolsonaro, no uso de seu direito, escolheu uma pastora da Igreja
Quadrangular, Damares Alves, para a pasta que cuidará de Mulheres, Família e
Direitos Humanos.
A ministra tem opinião formada
sobre o que é ser mulher: “A mulher nasceu para ser mãe e o homem protetor,
cuidador e provedor”. De que mulheres e homens está falando?
Será ministra de um país em que
mulheres ocupam a metade do mercado de trabalho, a natalidade vem caindo sem
nenhum programa de planejamento familiar, por livre escolha das mulheres. O
aumento da escolaridade abriu para elas outros horizontes, o que não significa
que não criem os filhos que têm com dedicação e amor. O número de lares brasileiros
chefiados por mulheres saltou de 23% para 40% em 20 anos segundo os dados do
Ipea.
A ministra quer um país sem
aborto e diz que não tratará do assunto. No Brasil, os abortos clandestinos são
mais de um milhão por ano, refletindo uma política de prevenção precária e um
tempo em que as mulheres exercem a liberdade de decidir quando querem ser mães.
Um país sem aborto seria o resultado da eficácia mágica de uma politica pública
ou da repressão que punisse o aborto como crime, na contramão de um mundo em que
a maioria das democracias ocidentais já o descriminalizou?
“No Brasil, uma mulher é
estuprada a cada 11 minutos. A cada sete uma sofre violência doméstica. Esses
são os números oficiais. E as que não denunciam? É uma nação que machuca as
mulheres”. Tem razão a ministra, machuca e mata. É o quinto país do mundo em
morte violenta de mulheres. Doze crimes de ódio contra mulheres é a média
diária no Brasil. O número de estupros em 2017 chegou a 60 mil, crescimento de
8,4 % acima do ano anterior.
Números oficiais existem porque
há décadas as mulheres brasileiras lutam para serem cidadãs. Graças a elas,
temos a Lei Maria da Penha. Continuarão a lutar, apostando na democracia
brasileira e no Estado laico. O massacre contra elas desafia a sociedade, o
governo e a ministra.
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(**) Escritora e membro da Academia Brasileira de Letras
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