Bernie Sanders em Davos - Propõe um novo movimento progressista mundial


Nosso colaborador, Prof. Airton Queiroz (UFF, Economia) exorta-nos a divulgar a mobilização mundial lançada por Bernie Sanders em Davos contra a selvageria de um capitalismo global sem freios e em prol de reformas progressistas.

Do Prof. Airton:

"Pergunta que não quer calar: como colocar o discurso do Bernie Sanders na mobilização política? Com que atores? Partidos Sindicatos? Alguma luz? Eu não sei qual é a resposta exata a ela, agora. O que sei é que devemos divulgar, o máximo que pudermos essa palavra do Bernie. Agitar em escala local. E hoje, local pode virar mundial.

Bernie é alguém de peso, é do país mais importante da Terra, foi um pré-candidato presidencial que quase disputou com Trump e, que, apesar de ser de esquerda, teve uma audiência muito concorrida durante as primárias das últimas eleições, em dezenas de estados estadunidenses."


O mal-estar eleitoral

Neste artigo, Luiz Carlos Azedo expõe algumas das dificuldades para a convergência entre candidaturas democráticas à Presidência da República em 2018. Propõe como via de entendimento a busca de um programa mínimo, do qual esboça alguns delineamentos. Vê ao fundo a crise das relações Estado-Sociedade em seu contexto internacional, por si só explicativa de perplexidades dos formuladores de políticas neste início do século XXI. Mas a ela se acrescentam a crise do Estado brasileiro e o imenso atraso socioeconômico do país, a demandarem formulação programática e estratégica. 

As articulações políticas tem seu ritmo e calendário. Mas aproxima-se a hora do entendimento e do diálogo no seio das forças democráticas.

_______________


O mal-estar eleitoral

Luiz Carlos Azedo
Correio Brasiliense, 14/01/2018

O ambiente “líquido” da disputa eleitoral fragmenta ainda mais os interesses da maioria e nenhum nome se apresenta como alternativa à radicalização.

Um dos grandes fatores de incerteza na conjuntura política é a ausência de um projeto de país no debate eleitoral que se inicia. Outro, o fato de que o Estado brasileiro está em crise, com o fracasso das políticas públicas e uma crise de financiamento cuja conta está sendo toda pendurada no sistema de Previdência.

Ao mesmo tempo em que os políticos e seus partidos não oferecem uma alternativa convincente e motivadora para a situação, a Operação Lava-Jato revelou para a sociedade que o financiamento da política — e o enriquecimento pessoal de seus principais operadores — era feito por meio do desvio ilegal de recursos, que deveriam ter ido para escolas, hospitais, estradas, metrôs, etc.

É impossível evitar o enorme mal-estar instalado na sociedade, com o agravante de que isso está sendo potencializado por outros fenômenos que não são uma exclusividade brasileira. No mundo inteiro, o Estado perdeu sua referência. O que era moderno e sólido, organizado, produtor de justiça e provedor da qualidade de vida das pessoas está se desmanchando no ar. Como assinalou o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (O mal-estar da pós-modernidade, Zahar), o Estado na pós-modernidade perdeu o poder para o mercado livre, perdeu o propósito de sua existência. Quanto maior, mais atrapalha. O Estado tornou-se uma empresa ineficiente.

Elio Gaspari: um Brasil politicamente incorreto

Este recente artigo de Elio Gaspari, a seguir reproduzido, retrata com a força dos números o enorme peso de um Brasil culturalmente atrasado em suas crenças e valores.

Indo alem do artigo, tal situação ajudaria a explicar a captura do sistema político pelas forças do coronelismo, patrimonialismo, compadrismo, clientelismo, populismo e corrupção, em seguimento às tradições autoritárias da sociedade brasileira. 

Afinal, quem elege os "representantes do povo" se não este mesmo povo?

Como renovar a representação política e fazer avançar a democracia?

Segue o artigo.

____________

Um Brasil politicamente incorreto

Elio Gaspari*
Janeiro 2018

A agenda do século XXI cai mal num país que não resolveu a do XX e, em alguns aspectos, nem a do XIX.

Duas informações trazidas pelo Datafolha podem ser úteis para que se conheça melhor o país que neste ano elegerá o presidente da República, 27 governadores, a Câmara dos Deputados e dois terços do Senado.

Mais da metade dos entrevistados (57%) disseram que as mulheres que fazem aborto devem ir para a cadeia e dois terços (66%) são contra a  legalização do consumo de maconha.

Outra pesquisa, do Ibope, informa que 49% de seus entrevistados declararam-se a favor da pena de morte. (Enquanto nos dois outros itens a pesquisa indica que a oposição caiu, neste os defensores da pena de morte aumentaram, pois em 2011 estavam em 31%.)

De pouco adianta adjetivar essas opiniões. A questão é substantiva: a banda do país que ainda vive os problemas do século XX e, em certos casos, os do XIX, está blindada em relação a alguns temas da agenda do XXI. Não faz o gênero politicamente correto.