A Vitória da Constituição


A preocupação de Werneck Vianna é com a democracia brasileira, cuja conquista custou à nossa geração sangue, suor e lágrimas. Tal preocupação faz sentido tendo em vista não só a história de nossa república como as peripécias recentes pelas quais passaram nossas instituições, do impedimento da ex-Presidenta à confusão entre as atribuições dos diferentes poderes, em particular a judicialização da política. Mas neste momento, com o movimento do Poder Judiciário, capitaneado pela Presidente do STF,  voltando a limitar-se à sua área, Werneck acusa nuvens negras ameaçando a realização da boa travessia até outubro próximo. Vamos ao artigo.

Sergio Augusto de Moraes

Domingo, 4 de março de 2018 - O Estado de São Paulo
Luiz Werneck Vianna
Sociólogo PUC-RJ

A vitória da Constituição


A saída do labirinto em que nos perdemos já foi encontrada na obediência ao calendário eleitoral, e não à toa ele já virou alvo dos que desejam mover para trás a roda da História.

Para quem queria a ocupação das ruas pelo povo, o cenário deste carnaval que passou, com as multidões que mobilizou nos blocos e nas escolas de samba, principalmente na capital paulista, ainda sem tradição nesse tipo de manifestação carnavalesca, surpreendeu os mais céticos, que não esperavam a volta da alegria na vida popular. Embora sem perder a conotação de crítica social, o momento catártico foi o dominante entre a nova geração, que ainda não conhecia a experiência carnavalesca, em particular entre as jovens que acorreram em massa aos blocos, num movimento indisfarçável de afirmação de gênero.

Com esse registro, a que se deve acrescentar o do desfile das escolas de samba, a política conta com mais uma matéria para a reflexão nesta hora de seleção das candidaturas presidenciais, ainda sem definição. Relativizando o caso de alguns desfiles que optaram por uma crítica política contundente ao governo, uma vez não se pode evitar o comentário do jornalista Ancelmo Gois, ao lembrar que no Brasil “prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e uma escola comandada por um bicheiro, a querida Beija-Flor, vence o carnaval que fala de corrupção” (O Globo 15/2).