Manifesto pela Democracia

Editores de Democracia e Socialismo
Junho 2018

Nesta primeira semana de junho que se encerrou, dois acontecimentos embora independentes se entrecruzaram numa avaliação.

Diante da atual crise social e política, e das ameaças que pairam sobre a democracia, um grupo de líderes políticos e intelectuais lançou o "Manifesto: Por um pólo democrático e reformista”. E a semana se encerrou com os resultados de nova pesquisa de intenção de votos Datafolha, a confirmar até o presente um quadro de acentuada indeterminação na corrida presidencial. Nesse contexto, cresce em importância a proposta daquele Manifesto.

A pesquisa é a primeira a sair decorridos os impactos iniciais da prisão de Lula, e ainda sob os desdobramentos da greve dos caminhoneiros.

O Manifesto exorta à unidade das forças democráticas no sentido de terem um papel determinante em prol das impostergáveis reformas estruturais que estão diante do país e do seu povo. Determinante justamente para poder superar as ameaças que se erguem, na corrida presidencial, trazidas por forças abertamente autoritárias e populistas, portanto antidemocráticas, assim incapazes de negociarem e colimarem a ampla base social e política exigida ao enfrentamento daquelas reformas.

Gráfico 1 - Fonte: Folha de São Paulo

A pesquisa Datafolha mostra em todos os cenários para o primeiro turno uma imensa margem de eleitores sem candidatos, chegando a 69% na pesquisa espontânea (46% + 23%, Gráfico 1), e em torno de 33% (embora 21% no cenário com Lula, Gráfico 2).
E dos apoios ao candidato da extrema direita vem outro indicador de relativa estabilidade comparativamente a pesquisas anteriores. Oscilam de 17% na pesquisa espontânea (Gráfico 1) a 19% na estimulada (Gráfico 2). Tais intenções de voto apontariam hoje sua possível presença no segundo turno (Gráfico 2).

Gráfico 2 - Fonte: Folha de São Paulo
Compreende-se o alarme dado pelos signatários do Manifesto diante destas tendências e indeterminações. Mas as eleições são em si mesmas alvissareiras. O mundo só "acabaria" mesmo se houvesse a vitória da extrema direita. A esquerda populista, se vencer, terá que negociar com o campo democrático. Dificilmente reconstruiria o mensalão. Quando muito atrairia, como sempre tem feito e errado, as forças do coronelismo e do atraso. Mas este é um dos caminhos do estelionato eleitoral. Com quem levará adiante as duras e impreteríveis reformas reclamadas pelo país?

Eis a oportunidade para as forças democráticas às quais exorta o Manifesto. Claro que poderão crescer no processo eleitoral, reduzirem a atual margem de indeterminação e construírem o arco de alianças sem o qual não virão reformas verdadeiramente conseqüentes.

Mas se prevalecer a esquerda populista, ainda assim será preciso aquelas mesmas forças democráticas estarem preparadas para a negociação. Para serem o “fiel da balança", com linhas programáticas a serem gestadas desde agora, já delineadas no Manifesto e propostas ao debate.


A perspectiva de perderem as eleições mas manterem-se fortes daria hoje às forças democráticas uma enorme flexibilidade estratégica. Seria reconhecer que objetivamente, sem atribuir exclusiva "culpa" a si próprias, há pesadas forças contrárias, operantes desde a base social. Somam-se: de um lado, o conservadorismo religioso e ético, o passivo educacional, as tradições autoritárias do clientelismo, compadrio e patrimonialismo; e de outro lado, o reacionarismo antipolítico de uma nova pequena burguesia e de trabalhadores autônomos emergentes, conforme tem-se aflorado em meio a greves e manifestações como as recentes dos caminhoneiros. Em resumo são duas tendências de forças sociais que se conjugam: o atraso e um americanismo emergente e selvagem. E sob a luz do presente quadro eleitoral de indeterminação podem até fazerem prevalecer a polarização entre extremos populistas autoritários. Aí estão as pesquisas de intenção de voto a sugerirem sua força.


Quem estará à altura desse desafio?


Aqui talvez resida a maior fragilidade dos partidos democráticos, todos inevitavelmente eleitoralistas e imediatistas, enredados nos pequenos interesses dos "políticos". Não se pensa coletiva e estrategicamente. Quase não se atua na sociedade civil organizada, este aliás um dos apelos do Manifesto.
Segue a sua íntegra.