Sergio Augusto de Moraes
Maio - 2018
Estávamos exilados no Chile. Corria o Governo de
Salvador Allende, meses depois derrubado pelo golpe militar de 1973. Numa noite,
tomando um bom vinho chileno Armênio me revelou, emocionado, que acabava de
saber que seu irmão Célio Guedes, que trabalhava na seção de organização do
Comitê Central do PCB, havia sido torturado e morto nos porões da ditadura
brasileira.
Armênio Guedes 30/05/1918 - 12/03/2015 |
A dor que aquela revelação causava em meu amigo era visível nos seus olhos e quase possível de se tocar com as mãos. Emocionei-me junto com ele e constatamos que a política da ditadura e de seus órgãos de repressão estava mudando para com o PCB: o assassinato se somava às mais bárbaras torturas.
Mesmo assim, naquele momento, Armênio fez
questão de reafirmar que tal fato não mudava sua avaliação de que a política de
amplas alianças, o aproveitamento de qualquer espaço legal para organizar o
povo na luta pela democracia, adotada por nosso Partido, era a única que
poderia derrotar a ditadura, sem permitir que a dor, a revolta e a indignação
toldasse sua lucidez. (do livro “Viver e morrer no Chile”, de Sergio Augusto de
Moraes, Ed. FAP e Contraponto, 2010)