Este recente artigo de Elio Gaspari, a seguir reproduzido, retrata com a força dos números o enorme peso de um Brasil culturalmente atrasado em suas crenças e valores.
Indo alem do artigo, tal situação ajudaria a explicar a captura do sistema político pelas forças do coronelismo, patrimonialismo, compadrismo, clientelismo, populismo e corrupção, em seguimento às tradições autoritárias da sociedade brasileira.
Afinal, quem elege os "representantes do povo" se não este mesmo povo?
Como renovar a representação política e fazer avançar a democracia?
Segue o artigo.
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Um Brasil politicamente incorreto
Elio Gaspari*
Janeiro 2018
A agenda do século XXI cai mal num país que não resolveu a do XX e, em alguns aspectos, nem a do XIX.
Duas informações trazidas pelo Datafolha podem ser úteis para que se
conheça melhor o país que neste ano elegerá o presidente da República, 27
governadores, a Câmara dos Deputados e dois terços do Senado.
Mais da metade dos entrevistados (57%) disseram que as mulheres que fazem aborto devem ir para a cadeia e dois terços (66%) são contra a legalização do consumo de maconha.
Outra pesquisa, do Ibope, informa que 49% de seus entrevistados declararam-se a favor da pena de morte. (Enquanto nos dois outros itens a pesquisa indica que a oposição caiu, neste os defensores da pena de morte aumentaram, pois em 2011 estavam em 31%.)
De pouco adianta adjetivar essas opiniões. A questão é substantiva: a banda do país que ainda vive os problemas do século XX e, em certos casos, os do XIX, está blindada em relação a alguns temas da agenda do XXI. Não faz o gênero politicamente correto.