O sociólogo Luiz Werneck Vianna
(PUC-RJ), em artigo no Estadão - 1/10/2017- analisa o risco de crise
institucional com o seu método de análise da formação histórica da civilização
brasileira.
"(...) a especificidade da civilização brasileira se caracterizava em pôr antagonismos em equilíbrio(...)Aqui, a tradição e o arcaico têm convivido com o moderno e a modernização, e temos sabido tirar proveito dessa ambiguidade para forjar nossa civilização".
"(...) Banir ou suspender a atividade política a pretexto de moralizá-la é nos deixar no vácuo, entregues a um governo de juízes ou a uma recaída num governo militar, e esse é um desastre com que contamos tempo para evitar".
Segue a íntegra.
Um imenso tribunal
Em outros tempos bicudos, não tão
distantes desses que aí estão, celebrado poeta popular lançou a profecia de
que, no andar da carruagem em que nos encontrávamos, iríamos tornar-nos um
imenso Portugal. A predição não se cumpriu. Aliás, Portugal está muito bem, e
as reviravoltas do destino nos conduziram a um lugar de fato maligno,
convertendo-nos num imenso tribunal. Vítimas da nossa própria imprevidência,
testemunhamos sem reagir a lenta degradação do nosso sistema político – salvo
quando o Parlamento introduziu uma cláusula de barreira a fim de evitar uma
malsã proliferação de partidos, a maior parte deles destituída de ideias e de
alma, barrada por uma intervenção de fundo populista por parte do Supremo
Tribunal.