Os ladrões das multidões

Sergio Augusto de Moraes
Dezembro - 2019
Nos ensaios* “Robôs e Capitalismo” e "Capitalismo na era do computador" , Tessa M. Suzuki** demonstra e discute:
a) o deslocamento no capitalismo tardio, do local de produção da mais-valia, da linha de produção material de mercadorias, típicas do capitalismo industrial, para a produção imaterial de conhecimento incorporado às inovações;
b) que, nestes casos, a inovação tem que ser contínua e perpétua;
c) que assim o conhecimento é transformado em mercadoria;
d) que a mercadoria conhecimento torna-se um produto da sociedade como um todo;
e) que quem “captura” o conhecimento social e o transforma em mercadoria, dele extraindo mais-valia, são as grandes corporações;
f) que a sociedade como um todo, e não uma classe específica, passa a ser o objeto da exploração por aquelas corporações.

Por outro lado, Don Tapscott, canadense especialista em internet corporativa, em entrevista sobre Sociedade e Internet***, diz que “A idéia de que a concentração de informação é sinônimo de poder faz parte do velho modelo industrial. A dinâmica das revoluções se baseava num líder e numa vanguarda...foi assim com George Washington, Fidel Castro e Mao-Tsé-Tung. Agora, como a internet reduz o custo da colaboração, as pessoas podem se unir da noite para o dia com uma força tão extraordinária a ponto de, no Egito, derrubar Hosni Mubarak, na Tunísia...etc” .
Hoje poderíamos acrescentar: no Brasil em 2013, na França, na Bolívia, na Colômbia, no Chile.
Parece que a universalização e o acesso instantâneo à informação e ao conhecimento tem dois lados: por um serve de base às grandes corporações para continuar extraindo mais-valia; por outro é um instrumento indispensável às grandes manifestações populares de nossos dias.
Mas como vemos, nestes casos, isto não basta. Falta definir quem somos e para onde queremos ir.

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*Aqui disponibilizados em sua íntegra, versões em português, através dos links:
Tessa Morris-Suzuki, “Robots and Capitalism”, New Left Review 147, setembro/outubro, 1984. A autora deu sequência ao debate suscitado por este artigo mediante a publicação de “Capitalism in the computer age”, New Left Review, I/160, Novembro-Dezembro 1986. Foram republicados pela editora Verso Books em “Cutting Edge – Technology, Information, Capitalism and Social Revolution”, London, New York, 1997.

*** Entrevista “A inteligência está na rede” Veja, edição 2212, em 2011.