O Virus Bolsonaro

As Instituições se mobilizam. Institutos da área da saúde, especialistas, governos estaduais, jornais, TVs. Os poderes Legislativo e  Judiciário coordenam-se com o Ministro da Saúde que, mesmo contrariando seu chefe, faz o que pode.
Mas os prejuízos da atitude do Presidente são gigantescos. Ele será o responsável maior por milhares de mortes, se algo não o impedir.
No artigo "O Virus Bolsonaro", a seguir, Marco Aurélio busca os caminhos para se evitar o pior.
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Marco Aurélio Nogueira*
Março/ 2020

Até quando o País suportará? Onde estão as forças, as instituições e as pessoas dispostas a frear a insanidade presidencial?

É difícil não se horrorizar ao ver as fotos de Jair Bolsonaro participando de um ato contra o Congresso, abraçando pessoas e apertando as mãos de seguidores. A justificativa foi lamentável: ele foi às ruas porque “está com o povo”. É uma insensibilidade brutal, escandalosa. Uma desfaçatez inadmissível, indefensável. Típica de alguém surtado.
É estarrecedor constatar que existem pessoas que tratam a atual situação de calamidade pública como se fosse uma “armação da mídia”, pessoas cegas em seu fanatismo, indiferentes a milhões de brasileiros. Posam de verde e amarelo e se dizem patriotas, mas são traidores da Pátria, se quisermos falar assim.
Um presidente que infringe regras e orientações estabelecidas por seu próprio governo é uma aberração. Ele debocha daquilo que as autoridades sanitárias desejam que seja norma de conduta para todos. Põe em risco a saúde da população e mostra não estar à altura da crise em que nos encontramos, que é epidemiológica e mundial, mas é também política, moral, econômica. O País está parado, à espera de alguém que o lidere e governe.
Marco Aurélio Nogueira
Em se tratando de Jair Bolsonaro, não dá para dizer que chegamos ao fundo do poço. Dele podemos esperar coisas sempre piores, mais graves, deletérias. Trata-se de um presidente que faz do poder um jogo de vida e morte, o contrário do que se esperaria de alguém eleito para governar um País enorme, complexo, diversificado. É um exibicionista, agarrado a ‘lives’ patéticas, nas quais demonstra toda a sua grosseria, seus maus modos, seu egocentrismo, sua irresponsabilidade. Tanto pode aparecer de máscara como se estivesse em quarentena, quanto pode cair nos braços da galera que o acompanha como se não houvesse amanhã.
Bolsonaro é uma versão do vírus do fanatismo populista e retrógrado, essa monstruosidade que se espalhou pelo mundo como uma pandemia. É uma ameaça à sociedade, à democracia, à dignidade humana.
Até quando o País suportará? Onde estão as forças, as instituições e as pessoas dispostas a frear a insanidade presidencial? O presidente hoje conspira abertamente contra seu próprio governo. Seus ministros e assessores parecem achar graça em suas peripécias, pensam que não atrapalharão demais, acham que ‘o cara é assim mesmo, é o jeito dele’. E a trupe de seguidores segue atrás, batendo bumbo e tirando fotos, contra tudo e contra todos.
Aqueles que compõem o governo atual e lhe dão sustentação ou são covardes irresponsáveis, que temem fazer alguma coisa, ou estão mancomunados com a mesma fúria de destruição que o presidente exibe, de modo cada vez mais escancarado.
Os democratas precisam agir, sair da passividade, olhar no olho da crise e assumir a responsabilidade de pensar uma saída. Não podem passar panos quentes, tergiversar em função de cálculos eleitorais ou partidários. É um momento agônico, que requer grandeza de espírito, coragem e generosidade.
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(*) Cientista político brasileiro, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo e professor de teoria política na Universidade Estadual Paulista.
Originalmente publicado no site Marco Aurélio Nogueira, em 16/03/2020