Sergio Augusto de Moraes
Julho 2017
Muito se falou da Revolução de 1917 na Rússia. Hoje quase exclusivamente fala-se mal, em especial nas grandes mídias, sempre a serviço do grande capital. Mas também se fala mal em boa parte daquilo que se conhece como esquerda. Esquerda?
Já que estamos falando de
revolução me permito uma citação de alguém que estudou seriamente o assunto:
...uma organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter; nunca relações de produção novas e superiores se lhe substituem antes que as condições materiais de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade(1).
Alguém duvida que Lênin e os
dirigentes da revolução de 1917 conheciam de cor e salteado esta tese de Marx?
Que eles sabiam que no seio da sociedade russa daquela época não existiam
“condições materiais” para que “relações de produção novas” surgissem? Mas, por
contraditório que possa parecer surgiram condições políticas. E o partido mais
preparado para assumir o poder era o partido bolchevique (comunista).
Quando da vitória da revolução em
1917 na Rússia, então um país que era definido como “um mar de camponeses”,
eles não tinham dúvidas: ela só poderia se consolidar na Rússia se outras
revoluções acontecessem nos países de
capitalismo avançado, em particular na Alemanha.
A revolução ocorreu durante a primeira guerra mundial de 1914 a 1918 na qual a Rússia sofreu perdas gigantescas. É o governo revolucionário que, enfrentando enormes dificuldades consegue assinar um tratado de paz em Março de 1918, o que lhe permite respirar. Logo depois a reação interna, apoiada nos exércitos de 14 países, inicia uma outra guerra, desta vez para derrotar a revolução, causando uma destruição indescritível.
No fim da guerra civil, em 1921, o proletariado urbano quase que desaparecera na Rússia. Moscou tinha apenas a metade e Petrogrado 1/3 de seus habitantes de antes da guerra. Lenin diz no 2º Congresso dos Servidores Políticos da Educação, em 17/10/21 :
Um proletariado industrial que, por causa da guerra, da ruína e das terríveis destruições, perdeu sua posição de classe, foi afastado de seu caminho de classe e deixou de existir como proletariado ...e considerando que a grande indústria capitalista está arruinada e que as fábricas e oficinas estão imobilizadas, o proletariado desapareceu. Fizemo-lo algumas vezes figurar como tal, de uma maneira formal, mas a verdade é que não tinha raízes econômicas.
Assim, a guerra mundial e
depois a guerra civil, tinham devastado a Rússia e minado as bases para a
implantação de uma democracia proletária. A mais poderosa organização que
emerge da guerra civil é o Exército
Vermelho com seus 5 milhões de homens. Seu chefe e líder indiscutido é Trotski.
Além do Exército só haviam duas forças capazes de dirigir a Rússia: O Partido
Comunista e a burguesia internacional. O
Partido e o Exército Vermelho, estão unidos e resolvem plantar as bases
de um outro sistema.
Diante desta situação Lenin
diz “Sim, a ditadura de um partido! Sobre este terreno estamos pisando e não
podemos sair dele, já que se trata de um Partido que conquistou, ao longo de
décadas, a posição de vanguarda de todo o proletariado fabril e industrial”. Em
Março de 1922, em carta a Molotov, então secretário do CC , diz :
Se não quisermos fechar os olhos à realidade teremos de admitir que no momento o caráter proletário da política do Partido é determinado não pela composição de classe de seus membros, mas pela enorme e indivisa autoridade daquela pequena camada de membros que poderia ser chamada de velha guarda do Partido.
Nestas condições os
revolucionários russos se davam conta de que a consolidação da revolução na
Rússia, mantendo pontos fundamentais de seu programa, só poderia se efetivar se
outras revoluções acontecessem nos
países de capitalismo avançado. Esta esperança é enterrada
definitivamente em 1923 com a derrota da revolução na Alemanha.
A direção do Partido resolve então enfrentar a tarefa de reconstruir não só o país como também o proletariado russo; isto nas condições de um cerco implacável por parte dos grandes países capitalistas. E o faz com grandes erros, mas também com acertos. Apenas um indicador: na segunda guerra mundial , Hitler joga na frente leste dois terços de seus principais exércitos e quem assesta os golpes decisivos no nazi-fascismo é o Exército Vermelho e não os ingleses ou norte-americanos, como tentam nos impingir as grandes mídias ocidentais nos seus filmes ou nas reportagens e programas de televisão sobre a segunda guerra mundial.
Qualquer observador no século XXI não terá dificuldades para encontrar críticas, umas poucas sérias mas em geral descabidas, sobre o que se fez na URSS entre 1917 e 1991. Difícil é encontrar alguém que aponte seus êxitos e ensinamentos fundamentais para quem pensa em construir um futuro não capitalista: a revolução socialista não pode abrir mão da democracia mais avançada, ela só poderá se desenvolver em uma série de países de capitalismo de ponta cuja força seja capaz de impedir seu sufocamento pelo que restar de capital internacional, ela deverá se apoiar nas classes e camadas que já tenham desenvolvido uma forma de viver internacionalista, o planejamento e a distribuição da produção e do lazer deverá ser obra de toda a sociedade, um novo tipo de ética entre o homem e a natureza deverá abrir espaço, etc, etc. São incontáveis os ensinamentos que se pode tirar dos erros e dos acertos da Revolução de 17 e da construção da URSS.
A direção do Partido resolve então enfrentar a tarefa de reconstruir não só o país como também o proletariado russo; isto nas condições de um cerco implacável por parte dos grandes países capitalistas. E o faz com grandes erros, mas também com acertos. Apenas um indicador: na segunda guerra mundial , Hitler joga na frente leste dois terços de seus principais exércitos e quem assesta os golpes decisivos no nazi-fascismo é o Exército Vermelho e não os ingleses ou norte-americanos, como tentam nos impingir as grandes mídias ocidentais nos seus filmes ou nas reportagens e programas de televisão sobre a segunda guerra mundial.
Qualquer observador no século XXI não terá dificuldades para encontrar críticas, umas poucas sérias mas em geral descabidas, sobre o que se fez na URSS entre 1917 e 1991. Difícil é encontrar alguém que aponte seus êxitos e ensinamentos fundamentais para quem pensa em construir um futuro não capitalista: a revolução socialista não pode abrir mão da democracia mais avançada, ela só poderá se desenvolver em uma série de países de capitalismo de ponta cuja força seja capaz de impedir seu sufocamento pelo que restar de capital internacional, ela deverá se apoiar nas classes e camadas que já tenham desenvolvido uma forma de viver internacionalista, o planejamento e a distribuição da produção e do lazer deverá ser obra de toda a sociedade, um novo tipo de ética entre o homem e a natureza deverá abrir espaço, etc, etc. São incontáveis os ensinamentos que se pode tirar dos erros e dos acertos da Revolução de 17 e da construção da URSS.
Não só olhando para o futuro
mas também no presente da humanidade a
Revolução de Outubro e a URSS imprimem no dia a dia suas marcas quando, por
exemplo, se considera os direitos dos trabalhadores e da mulher.
Quem pensa o futuro da
humanidade não pode repetir que a derrota da URSS fez a esquerda do século XXI
“perder sua narrativa”. Isto seria esquecer que diante da possível derrota da Comuna
de Paris (1871), Marx que, anteriormente,
havia manifestado sua discordância com a oportunidade dessa revolução, diz:
“Graças à Comuna de Paris, a luta da classe operária contra a classe dos
capitalistas e contra o Estado que representa os interesses desta última entra
agora em uma nova fase. Seja qual for o desenlace imediato, conquistou-se dessa
vez um ponto de partida novo de importância histórico-mundial”(2).
Mutatis mutandis poderíamos dizer, no século XXI, o mesmo da
Revolução de 1917 e da construção da URSS : com elas conquistou-se um novo
ponto de partida de importância histórico-mundial para a construção de um mundo
onde a riqueza não será mais realizada pela exploração do trabalho alheio e a
medida da riqueza social não será mais o tempo de
trabalho mas sim o tempo disponível.
(1) K. Marx, Prefácio à ”Contribuição à Crítica da Economia Política”, Ed.
Martins Fontes, 2003, pg. 6.
(2) K. Marx, Carta a L. Kugelmann,17 de abril de 1871, em Marx e Engels,
Obras Escolhidas, vol. 3, pg. 264, Ed. Vitória Ltda. Rio de Janeiro, 1963.
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