Crise da Música
João Cezar Pierobon
Julho 2017
A
velha ordem, como a denomina Arthur M. Schlesinger Jr, desabou na esteira da
Grande Depressão, que se iniciou ao final dos anos 1920, e veio justo no
período de sua crise que ele localiza entre os anos de 1919 e 1933. A crise da
velha ordem da música, talvez numa ousada antecipação, teve o seu começo antes,
nas fronteiras entre os séculos XIX e XX, nos estertores do movimento romântico.
O mundo da razão começava a dar a sua medida. Roland de Candé, na sua História Universal da Música (Martins
Fontes), dá algumas pistas sobre o início da crise da velha ordem musical. A
coisa começou sobre o que se entendia ser consonância
e dissonância entre dois sons
simultâneos. O intervalo, que é a
diferença de frequência entre esses dois sons, medida pelo quociente de suas
frequências, então seria consonante
ou dissonante. Por que um intervalo seria consonante, ou belo, e
outro, dissonante, algo áspero, seria feio? Qual o ouvido absoluto que poderia
julgar sobre a beleza, ou feiura, de um dado intervalo, ou acorde? E o efeito
do timbre, ou vozes em polifonia ou homofonia? Um dado intervalo seria
dissonante em um instrumento, e em outro seria consonante? Schubert, Schumann,
Chopin e Liszt não estiveram nem aí
para essa história. Então emanciparam a dissonância.
Como deixar de achar belas certas composições de Debussy que usou e abusou de acordes dissonantes? Há poesias musicais
dele que são flores envoltas por névoas sob a intensa lua azul no céu da noite.
São doçuras sonoras. Mas, como soe acontecer, fizeram o diabo. Houve
dissonâncias e mais dissonâncias, verdadeiras esculturas musicais da monotonia.
Um mundo plano, igual,
sem mudança de cor. Houve até mesmo música do silêncio. Como um quadro
branco diante do qual alguns exegetas dão chiliques de êxtases. Então veio
Harold Bloom e disse: “tudo desmoronou, o centro não resistiu, e a pura e
simples anarquia se desencadeia sobre o que, antes, se chamava mundo culto.” ( O Cânone Ocidental, Objetiva).
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