Ricardo Pessoa da Silva
Bancário Aposentado
A assinatura do Armistício de Panmunjeom, em 27/07/1953,
pôs fim ao conflito armado que opôs (desde 25/06/1950) a Coreia do Norte, a
China e a URSS à Coreia do Sul e outros países (Austrália, Nova Zelândia, Reino
Unido, etc) capitaneados pelos Estados Unidos. Desde então a península coreana
tem experimentado relativa estabilidade, não obstante o clima de tensão que, em
maior ou menor grau, tem prevalecido entre os dois países.
As relações entre as duas Coreias durante a década de
2000 foram contraditoriamente marcadas pela aproximação econômica, de um lado,
e pelo acirramento militar de outro. Fruto da aproximação foi a criação de parque
industrial conjunto, do lado norte-coreano. Financiado por capitalistas
sul-coreanos, o parque abriga diversas indústrias, sendo a maioria pequenas
empresas sul-coreanas que atuam na área manufatureira. Mais de 50.000
trabalhadores norte-coreanos trabalham neste parque.
Em março de 2013 a tensão voltou a subir com a
decretação, pela Coreia do Norte, da “nulidade do armistício” e do “estado de
guerra”, alegando os exercícios militares conjuntos entre as forças armadas da
Coreia do Sul e dos Estados Unidos. Em abril do mesmo ano o presidente Kim
Jong-un ordenou o fechamento do parque intercoreano.
Em março de 2013, a ONU promulgou novas sanções ao país
do Norte. Sanções acarretam piora das condições sociais da população
norte-coreana e contribuem para o aumento das tensões. A Coreia do Norte foi
signatária do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) até janeiro
de 2003, quando se retirou depois de acusada de conduzir um programa
clandestino desde 1989.
As origens do programa nuclear norte-coreano remontam à
década de 1960, mas a aceleração dos esforços de construção de artefatos
atômicos e vetores de lançamento está ligada às duas derrotas militares do
Iraque frente aos EUA, em 1991 e 2003. O governo norte-coreano estaria
convencidos que sua sobrevivência somente estaria assegurada se possuírem armas
de destruição em massa.
As tensões mais uma vez acirraram-se com novos testes
nuclearas pela Coreia do Norte, culminando com o que teria sido a detonação de
uma bomba de hidrogenio em 03/09/17; com o lançamento de nova família de
mísseis que teriam capacidade intercontinental e de carregar ogivas atômicas e
com a ameaça de Kim Jong-un de atacar a Ilha de Guam, onde estão situadas as
bases militares americanas de maior importância estratégica no Pacífico
Ocidental. Este último lançamento sobrevoou o território japonês, numa clara
demonstração da capacidade militar norte-coreana de atingir um importante
aliado norte-americano.
Essa escalada tem levado a uma verdadeira histeria
militar – protagonizada por Donald Trump e Kim Jong-un, que prometem destruição
mútua.
Especialistas não acreditam num desenlace militar dado o
potencial destrutivo que o conflito teria, pelo menos, para a totalidade da
península coreana e para o Japão. Outra grande incognita que também não poderá
deixar de ser considerada é que papel a China poderia vir a ter em um eventual
conflito, o que poderia ter potencial para expandir a disputa para um conflito
mundial, inclusive com a utilização de arsenais nucleares. O embaixador chinês
no Conselho da ONU afirmou que “a China nunca permitirá caos e guerra na península
coreana”.
O fato é que “erros de cálculo” e/ou a eventual
interpretação equivocada/precipitada de alguma movimentação por qualquer dos
lados poderá desencadear um conflito de inimagináveis proporções.
Durante a coletiva de imprensa dedicada ao encerramento
da cúpula dos BRICS, o presidente russo Vladimir Putin disse ser “preciso que
nos orientemos para o diálogo entre todas as partes interessadas e que todas as
partes deste processo, incluindo a Coreia do Norte, não tenham nenhumas
preocupações relacionadas com a ameaça de destruição, mas, pelo contrário, é
necessário que todos os participantes do conflito sigam o caminho da
colaboração".
Ainda segundo Putin, "nas condições e na situação
atual, a escalada da histeria militar é algo absolutamente sem sentido. Isto
conduz a uma situação de completo beco sem saída”. Destacou também que a Coreia
do Norte possui outros tipos de armamento, contra os quais o equipamento
antimíssil é inútil. Nessas condições, a escalada da histeria militar não
levará a nada de bom. Tudo isto pode causar uma catástrofe de escala mundial,
bem como a grande número de vítimas".
É importante que todos se conscientizem de que a opção
sensata para a resolução da instabilidade na ordem geopolítica mundial criada a
partir das tensões geradas na península coreana está na saída pacífica, o que
demandará extenuantes e persistentes negociações com todas as partes. Quanto à
superação da ditadura comandada pela dinastia pseudo-comunista, o que sem dúvida
contribuiria para uma solução pacífica, esta caberá exclusivamente ao povo
norte-coreano encontrar a melhor forma de alcançar um regime democrático.
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