Coreia: cronologia e riscos da escalada das tensões

Ricardo Pessoa da Silva
Bancário Aposentado

A assinatura do Armistício de Panmunjeom, em 27/07/1953, pôs fim ao conflito armado que opôs (desde 25/06/1950) a Coreia do Norte, a China e a URSS à Coreia do Sul e outros países (Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, etc) capitaneados pelos Estados Unidos. Desde então a península coreana tem experimentado relativa estabilidade, não obstante o clima de tensão que, em maior ou menor grau, tem prevalecido entre os dois países.

As relações entre as duas Coreias durante a década de 2000 foram contraditoriamente marcadas pela aproximação econômica, de um lado, e pelo acirramento militar de outro. Fruto da aproximação foi a criação de parque industrial conjunto, do lado norte-coreano. Financiado por capitalistas sul-coreanos, o parque abriga diversas indústrias, sendo a maioria pequenas empresas sul-coreanas que atuam na área manufatureira. Mais de 50.000 trabalhadores norte-coreanos trabalham neste parque.

Em fevereiro de 2012 a Coreia do Norte realizou um teste com um míssil balístico de longo alcance. Em fevereiro de 2013 ela anunciou ter realizado um terceiro teste nuclear. Os outros dois testes nucleares ocorreram em 2006 e 2009. Por seu turno, a Coreia do Sul vem, há algum tempo, realizando testes com mísseis de longo alcance, que poderiam atingir o vizinho do Norte.

Em março de 2013 a tensão voltou a subir com a decretação, pela Coreia do Norte, da “nulidade do armistício” e do “estado de guerra”, alegando os exercícios militares conjuntos entre as forças armadas da Coreia do Sul e dos Estados Unidos. Em abril do mesmo ano o presidente Kim Jong-un ordenou o fechamento do parque intercoreano.

Em março de 2013, a ONU promulgou novas sanções ao país do Norte. Sanções acarretam piora das condições sociais da população norte-coreana e contribuem para o aumento das tensões. A Coreia do Norte foi signatária do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) até janeiro de 2003, quando se retirou depois de acusada de conduzir um programa clandestino desde 1989.

As origens do programa nuclear norte-coreano remontam à década de 1960, mas a aceleração dos esforços de construção de artefatos atômicos e vetores de lançamento está ligada às duas derrotas militares do Iraque frente aos EUA, em 1991 e 2003. O governo norte-coreano estaria convencidos que sua sobrevivência somente estaria assegurada se possuírem armas de destruição em massa.

            As tensões mais uma vez acirraram-se com novos testes nuclearas pela Coreia do Norte, culminando com o que teria sido a detonação de uma bomba de hidrogenio em 03/09/17; com o lançamento de nova família de mísseis que teriam capacidade intercontinental e de carregar ogivas atômicas e com a ameaça de Kim Jong-un de atacar a Ilha de Guam, onde estão situadas as bases militares americanas de maior importância estratégica no Pacífico Ocidental. Este último lançamento sobrevoou o território japonês, numa clara demonstração da capacidade militar norte-coreana de atingir um importante aliado norte-americano.

Essa escalada tem levado a uma verdadeira histeria militar – protagonizada por Donald Trump e Kim Jong-un, que prometem destruição mútua.

Especialistas não acreditam num desenlace militar dado o potencial destrutivo que o conflito teria, pelo menos, para a totalidade da península coreana e para o Japão. Outra grande incognita que também não poderá deixar de ser considerada é que papel a China poderia vir a ter em um eventual conflito, o que poderia ter potencial para expandir a disputa para um conflito mundial, inclusive com a utilização de arsenais nucleares. O embaixador chinês no Conselho da ONU afirmou que “a China nunca permitirá caos e guerra na península coreana”.

O fato é que “erros de cálculo” e/ou a eventual interpretação equivocada/precipitada de alguma movimentação por qualquer dos lados poderá desencadear um conflito de inimagináveis proporções.

Durante a coletiva de imprensa dedicada ao encerramento da cúpula dos BRICS, o presidente russo Vladimir Putin disse ser “preciso que nos orientemos para o diálogo entre todas as partes interessadas e que todas as partes deste processo, incluindo a Coreia do Norte, não tenham nenhumas preocupações relacionadas com a ameaça de destruição, mas, pelo contrário, é necessário que todos os participantes do conflito sigam o caminho da colaboração".

Ainda segundo Putin, "nas condições e na situação atual, a escalada da histeria militar é algo absolutamente sem sentido. Isto conduz a uma situação de completo beco sem saída”. Destacou também que a Coreia do Norte possui outros tipos de armamento, contra os quais o equipamento antimíssil é inútil. Nessas condições, a escalada da histeria militar não levará a nada de bom. Tudo isto pode causar uma catástrofe de escala mundial, bem como a grande número de vítimas".

É importante que todos se conscientizem de que a opção sensata para a resolução da instabilidade na ordem geopolítica mundial criada a partir das tensões geradas na península coreana está na saída pacífica, o que demandará extenuantes e persistentes negociações com todas as partes. Quanto à superação da ditadura comandada pela dinastia pseudo-comunista, o que sem dúvida contribuiria para uma solução pacífica, esta caberá exclusivamente ao povo norte-coreano encontrar a melhor forma de alcançar um regime democrático.

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