Sergio Augusto de Moraes*
Janeiro - 2023
O que aconteceu em Brasília
neste oito de janeiro foi uma tentativa de acabar com a democracia no Brasil,
mesmo que a maioria dos bolsonaristas que estavam na manifestação que resultou
na depredação das sedes dos três poderes não tivessem consciência disto.
Há que se entender que não foi
uma ação de meia dúzia de malucos mas sim uma ação maciça, de milhares, apoiada
por milhões de bolsonaristas em todo o Brasil e que deve ser enfrentada não só pela justiça mas também no
terreno da política.
Salão Nobre, Palácio do Planalto, destruído após invasão de terroristas. Imagem: Gabriela Biló/Folhapress |
Outro aspecto desse acontecimento é uma certa desatenção do governo Lula e da maioria dos democratas brasileiros que concentraram suas atenções na posse de Lula, sem dar-se conta que os golpistas não se limitariam às manifestações e acampamentos frente aos quartéis. Existe uma organização por trás destas ações que detém a hegemonia nos órgãos de informação. O caso do governador de Brasília é apenas a ponta do iceberg.
Muitos acham que Lula foi
leniente com os golpistas. Não é bem assim. Lula e seu governo vêm demonstrando
ter idéia da correlação de forças, não só na sociedade mas em particular nas
FFAA e nas polícias. Durante quatro anos Bolsonaro trabalhou tais setores
visando um golpe caso não ganhasse as eleições. E, mesmo as perdendo no segundo
turno, as sementes que plantou usando todos os recursos legais e ilegais
germinaram. Ele ainda tem a hegemonia nas FFAA e nas polícias da maioria dos
Estados.
Mas fenômenos deste tipo não
ocorrem somente aqui. Muitos analistas de política apontam as semelhanças entre
este oito de janeiro e o que aconteceu nos EEUU há dois anos. A extrema direita
cresce também na Itália, na França, na Hungria e em outros países. Enquanto 36
famílias concentrarem uma renda igual aos 4,5 bilhões mais pobres do mundo
estará aberto um terreno fértil para seu crescimento. E nosso País é um campeão
das desigualdades.
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(*) O autor é Engenheiro pela UFRJ e Mestre em Econometria pela Universidade de Genebra. Trabalhou no Chile para o governo de Salvador Allende, 1971-1973 quando, depois do golpe de Estado de Pinochet, esteve preso no Estadio Nacional. Dali conseguindo livrar-se pela solidariedade internacional, foi para a Europa, onde ficou seis anos exilado. Voltou ao Brasil em 1979. É autor também do livro "Viver e Morrer no Chile" - 2010, e um dos editores deste Blog "Democracia e Socialismo."
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