O recuo de Bolsonaro, refletido na sua manobra de aliança com partidos do Centrão, decorreu da resistência das forças democráticas que o fizeram se afastar da "ala ideológica" de ultra-direita. Nem por isto aquelas forças podem relaxar no esforço de montagem de alianças de centro-esquerda nas eleições de novembro.
O artigo abaixo, por vias indiretas, aponta pistas para isto.
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O Centro está órfão*
Luiz Carlos Azedo**
Outubro – 2020
O candidato no poder tem vantagens estratégicas e precisa errar muito para perder a eleição. A oposição enfrenta muitas dificuldades para construir uma alternativa convincente.
O presidente Jair Bolsonaro não
é mais um líder sem estado-maior. No Palácio do Planalto, consolidou-se um
alto-comando formado por oficiais generais de quatro estrelas: Braga Netto
(Casa Civil), Luiz Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de
Segurança Institucional), agora reforçado com a ida do almirante de esquadra
Flávio Augusto Vianna Rocha, da Secretaria de Assuntos Estratégicos para a
Secretaria-Geral da Presidência, no lugar do ministro Jorge Oliveira. Completam
o time os líderes do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE); no
Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO); e na Câmara, Ricardo Barros (PP-PA),
que operam as articulações políticas no Congresso, com apoio dos ministros do
Desenvolvimento, Rogério Marinho; da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas; e da
Agricultura, Teresa Cristina. O cururu na história é o ministro da Economia,
Paulo Guedes, que joga praticamente sozinho.
Luiz Carlos Azedo |
Bolsonaro se finge de morto nas
eleições municipais, mas opera uma estratégia bem pensada de ocupação do centro
político, um espaço cada vez mais aberto em razão do esvaziamento das nunca
assumidas pré-candidaturas do ex-ministro da Justiça Sergio Moro e do
apresentador Luciano Huck. Quando a popularidade de Bolsonaro despencou, em
razão da pandemia da covid-19 e das suas próprias trapalhadas, ambos apareciam
como possíveis alternativas de poder, inclusive com estruturas partidárias à
disposição: o Podemos, no caso de Moro, e o Cidadania, no caso de Huck.
Acontece que “o mundo gira e a Lusitânia roda”, como diz o velho reclame de
caminhões de mudança. A pandemia virou tudo de pernas para o ar. O governador
de São Paulo, João Dória (PSDB), enfraquecido pela crise sanitária, está
confinado e, provavelmente, concorrerá à reeleição.
O terreno
Cavalo não passa arreado quando
se trata de reeleição. O candidato no poder tem vantagens estratégicas que
pesam na balança e precisa errar muito para perder a eleição. A oposição
enfrenta muitas dificuldades, precisa construir uma alternativa de poder que
seja convincente. Isso não é possível com dissimulação. Moro e Huck estão se
inviabilizando por causa disso. Ciro Gomes, o candidato do PDT, que tenta essa
construção pela terceira vez, foi completamente contingenciado pelo PT, que
manteve a candidatura de Lula, mesmo considerado um ficha-suja, ofuscando,
inclusive, a melhor alternativa que a legenda teria: Fernando Haddad, que nas
eleições passadas obteve 47 milhões de votos, 44,8% do total, contra 57,7
milhões de Bolsonaro, 55,1% dos votos válidos. Com Ciro emparedado, Lula acredita
que o PT terá um lugar seguro no segundo turno contra o presidente. O grande
risco é a reeleição ocorrer no primeiro, com o deslocamento de Bolsonaro para o
centro. Por isso, ele não faz o menor esforço para alavancar os candidatos
bolsonaristas de raiz nas eleições municipais.
Militares classificam os
terrenos de acordo com as dificuldades de manobra. O campo que pode ser
facilmente atravessado por qualquer lado é considerado acessível, leva vantagem
quem ocupa as melhores posições primeiro. É o que está sendo feito por
Bolsonaro. Nas eleições municipais, faz um duplo movimento: de um lado, avança
sobre o eleitorado de baixa renda, graças ao auxílio emergencial; de outro,
tece alianças com os adversários de seu inimigo principal, a esquerda,
principalmente no Nordeste. Sua prioridade é impedir que surja uma alternativa
de poder ao centro e isolar a esquerda; não é agradar a sua base eleitoral mais
ideológica, que não tem alternativa. Como a esquerda é incapaz de se aliar ao
centro, a não ser quando recebe apoio eleitoral, a manobra de ocupação de
terreno ficou muito mais fácil.
Ninguém se iluda, a política
tradicional não morreu. Renasce das cinzas na disputa pelo controle das
prefeituras e câmaras municipais, uma tradição que vem desde o período
colonial. O MDB é o partido com maior número de candidatos (44 mil), seguido
pelo PSD (39 mil) e PP (38 mil); todos estão na base de Bolsonaro e podem
emergir das eleições municipais como os maiores partidos. DEM, PSDB, ao centro,
e PT, à esquerda (com 30 mil cada), disputam o segundo pelotão. Republicanos e
PL, bolsonaristas; e PDT (com 28 mil) e PSB (26 mil), firmes na oposição, vêm a
seguir. PTB, PSL, na base de Bolsonaro, e Podemos, ao centro, estão na faixa
dos 20 mil. PSC, Solidariedade, Patriota e o Avante, governistas, e Cidadania,
na oposição, em torno de 17 mil. Mais abaixo estão a oposição mais à esquerda:
PV e o PCdoB (10 mil); PSol e Rede, com menos de 5 mil candidatos.
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(*) Originalmente publicado no Correio Braziliense em 9/10/2020.
(**) Jornalista colunista do Correio Braziliense.
Caríssimo Sergio, temos que ficar muito atentos para não permitir a sucumbência no autoritárismo populista. Já tivemos exemplos na História de terríveis consequências.
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