O artigo abaixo é faca amolada.
Não permite que aproveitadores suspeitos tirem partido da morte de Marielle,
mulher coragem. Se ele for lido por muitas brasileiras e muitos brasileiros
teremos mais força para evitar que o Brasil ande para trás.
Marielle era força e promessa*
Miriam Leitão
Março/2019
“Quem era Marielle?” A pergunta
é do deputado Eduardo Bolsonaro. “Estou falando com todo o respeito. Ninguém
conhecia Marielle Franco antes de ela ser assassinada”. O parlamentar tem que
redobrar seu respeito. Marielle era um fenômeno da política. Mulher, negra e
tendo crescido na Maré, sem qualquer parente na política, de um partido
pequeno, fez uma campanha sem recursos e que a consagrou com mais de 46 mil
votos. Ela foi votada principalmente nas áreas pobres da cidade.
Quem era Marielle? Era uma
política despontando com uma força de liderança enorme. Na democracia
representativa, os representantes são o esteio das instituições e por isso
vivem sob constante escrutínio da população. Marielle encarnava exatamente os
que mais precisam ter voz num país desigual e cheio de injustiças como o
Brasil, as mulheres, os negros, os pobres, os que são perseguidos por sua
orientação sexual. Trabalhou para construir essa liderança, por 10 anos foi
funcionária de uma casa legislativa, acompanhava o chefe, deputado Marcelo
Freixo, numa CPI árdua, a das milícias, problema que ou é enfrentado ou o Rio
naufragará na barbárie. Os chefes da milícia são, como ninguém desconhece,
ex-integrantes das forças de segurança do Estado. Atuam numa zona de sombra
perigosa, afinal o Estado treina e arma seus agentes para que protejam a
população e não para prepará-los para ocupar parte do território, sequestrar populações,
ameaçá-las e matar os que considera que são seus inimigos.
Segundo o deputado Bolsonaro,
ninguém sabia quem era Marielle Franco, antes do crime. Seus eleitores sabiam,
a população que foi espontaneamente às ruas nas horas seguintes para chorar sua
morte sabia. E infelizmente sabiam também os que a mataram e os que tramaram
tão minuciosamente como executar o crime. Se não era ninguém, como sugere o
deputado Bolsonaro, porque o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM
Élcio Queiroz programaram com tanta frieza, a esperaram com tanta determinação,
planejaram com tantas minúcias o seu assassinato?
Ela era uma força emergente que
já no seu primeiro mandato ameaçava e incomodava. O país precisa saber tudo
sobre esse crime porque ele é um atentado à democracia. O Estado Democrático de
Direito não pode conviver com o fato de que um representante eleito foi
assassinado pelas ideias que tinha e defendia. Isso ocorre nas ditaduras, que
se instalam na marginalidade, na ausência da lei. Mas a democracia não pode
aceitar o silêncio, as respostas incompletas ou as interpretações enviesadas
sobre os motivos que levaram ao crime. Como disse Merval Pereira ontem neste
jornal, é “improvável” a tese de que foi por ódio que Ronnie Lessa a matou. Um
ódio dele, só dele, e não a ponta executora de um plano para eliminar uma voz
que ficava mais alta a cada dia.
O senador Flávio Bolsonaro fez
também uma pergunta, diante dos fatos expostos pela Delegacia de Homicídios ao
prender os dois suspeitos. “Agora virou fator importante para o crime o cara
coincidentemente morar no condomínio dele (de Jair Bolsonaro)?” De novo, há um
erro de olhar. O que ele e os órgãos de segurança e todos os envolvidos na
proteção do presidente deveriam se perguntar é como ninguém soube que o presidente
morava tão perto de alguém que tinha ligações com criminosos, era um matador de
aluguel e possuía arsenal onde havia 117 fuzis. Afinal, Bolsonaro foi
esfaqueado durante a campanha. E esse foi o argumento para se fazer uma
blindagem tão grande na posse que impôs aos jornalistas constrangimentos
inéditos. Mas, depois da posse, quando vinha ao Rio, ele ficava numa extrema
proximidade de um matador de aluguel.
Há distorção da realidade nas
perguntas feitas pelos dois filhos do presidente diante da apresentação pela
polícia dos suspeitos pela morte de Marielle. A pergunta exata é saber quem
mandou matar uma representante do povo do Rio na Câmara Municipal. O
esclarecimento do crime é fundamental para dar respostas à família, aos que
amavam Marielle, aos que se sentiam representados por ela, aos que vislumbravam
o seu futuro. Mas é também a única forma de fortalecer a democracia. A cada dia
— e já são 365 deles — em que não se sabe a motivação e os mandantes desta
conspiração e morte, maior é o risco que corre a democracia brasileira.
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(*) Reproduzido de O Globo, 14
de março de 2019.
Estou achando que o inimigo estava do lado dela,onde ninguém imagina.
ResponderExcluirO desconhecimento de quem era Marielle dos falso, porém se for verdadeiro é peor,pós demonstra o total desconhecimento do universo político do estado que viviam,portanto sugere que estavam ocupados com outros "assuntos" em outras esferas que não a política próxima a milicianos 💩💀☠👾😈👿👹👺☠
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