Sergio Augusto de Moraes
Setembro de 2017
Parece que nestes tempos o povo, enojado
com a corrupção que grassou no Brasil e castigado pela crise, virou as costas
para o mundo político e apenas aguarda 2018 para tentar uma solução. Fazer
deste modo tal travessia contém várias armadilhas. Uma delas é deixar que a
polarização Lula-Bolsonaro cresça e chegue a outubro do próximo ano como a
alternativa mais forte, o que, dentre outros males, elevaria o absenteísmo, o voto nulo e em branco a
patamares nunca antes atingidos. Outra é deixar espaço para o Governo Temer e o Legislativo, juntos, empurrados pelo que têm de pior,
anulem o trabalho da Lava-Jato.
É natural que esta descrença aconteça. Durante
quase treze anos uma polarização primitiva patrocinada pelo PT e seus governos–
“nós” contra “eles”- dividiu o povo brasileiro. Esta mercadoria, vendida por
vários meios, foi comprada meio às cegas; aparecia para a grande maioria como
“pobres” contra “ricos”.
Entretanto
a realidade era outra : foi nestes governos que os banqueiros realizaram os
maiores lucros de sua história e outros setores do empresariado- a Lava-Jato
escancarou boa parte deles- enriqueceram às custas de favores do Estado , numa
aliança espúria que visava dominar o Brasil no mínimo por vinte anos, segundo
verbalizado por alguns líderes petistas.
Na verdade o “nós” significava
quem estava ou apoiava os governos de Lula e Dilma e o “eles” aqueles que lhes
faziam críticas ou simplesmente não os apoiavam.
Ao
passar do tempo o verdadeiro caráter destes governos foi
revelando-se. De repente, sem que os analistas ou os políticos previssem, o
povo acordou. Em junho de 2013 milhões saíram às ruas pedindo mudanças,
verberando os políticos de maneira indiscriminada. Não tinham uma proposta
única, apenas gritavam que aquilo não podia continuar, era preciso fazer algo
diferente.
Em março de 2014 veio uma primeira
resposta: a Lava-Jato começou a tarefa de combater a corrupção, fosse de quem fosse. Preferencialmente daqueles que haviam
indevidamente se apropriado dos recursos das empresas ou de setores públicos. Foi e continua sendo
uma resposta do Poder Judiciário às demandas populares, instituição da
democracia brasileira que demonstra ter meios de defendê-la no terreno que lhe
cabe.
Mas isto não bastava. Sem entrar em questões
jurídicas vemos que foi a incapacidade do governo Dilma de articular uma
resposta à altura da indignação popular, expressa em novas grandes
manifestações de rua e de lidar com a “crise de governabilidade” os motores que levam ao seu impedimento em agosto
de 2016. Este e a assunção de Michel
Temer ao governo central dão-se de
acordo com a Constituição da República. Era para ser uma resposta no terreno do
Poder Executivo ao clamor do povo.
Entretanto o DNA do PMDB e do próprio
Presidente não lhes permite responder à expectativa popular. O governo Temer
não consegue mudar o rumo do despenhadeiro para o qual apontava o governo Dilma
e aos poucos se tornou refém do “centrão”, a parte mais fisiológica do Poder Legislativo.
De tropeço em tropeço seus esforços principais vão, hoje, no sentido de chegar vivo às eleições de 2018.
É este cenário de longos e sucessivos
engodos que, hoje, joga para baixo a expectativa popular em relação à política.
Se isto persistir neste tempo de travessia será o pior, porque é nele que vai ser decidido o futuro
do Brasil nos próximos anos. A pergunta que não quer calar é o que fazer de
agora até outubro do próximo ano diante da campanha pela sucessão presidencial
já começada?
A alternativa é, desde já, iniciar a
formação de um bloco político de centro-esquerda que mobilize o povo e possa
plasmar neste período e em outubro de 2018 uma solução democrática e republicana. Esta
é a grande tarefa que está colocada para o vasto mundo que não se identifica
com extremismos. Difícil? Sem dúvida, mas é possível realizá-la.
Agora, o primeiro passo nesta direção será
lançar um nome que tenha, pelo seu passado, um sólido compromisso com a ética
política, experiência administrativa e uma proposta para o futuro do País que
coloque os interesses do povo à frente daqueles que vêm marcando a política
brasileira nos últimos tempos.
Até hoje nenhuma pré-candidatura
presidencial demonstrou potencial para realizar essa tarefa. Pelo centro surgem
nomes, principalmente em São Paulo. Eles não levantam o ânimo, não acendem a esperança das mudanças sonhadas. À exceção
do prefeito de São Paulo, que mais parece um pescador de águas turvas, os nomes
levantados são de políticos conhecidos, alguns que podem até ser
administradores razoáveis porém incapazes de entusiasmar as multidões.
Mas
também se ouve nas redes sociais o nome do senador Cristovam Buarque. Quem
escuta ou lê suas propostas percebe que
ele é portador de um projeto moderno, centrado na redução das desigualdades e
na educação. Seu passado de político é exemplar, nada a ver com a Lava-Jato.
Como governador de Brasília fez um trabalho que marcou época.
Quando foi eleito senador tinha direito a
dois salários: um de sua aposentadoria na Universidade de Brasília e outro de
parlamentar. Abriu mão de seu salário como senador. Não usa carro oficial, vai
para o senado em seu próprio veículo. Rara mercadoria entre os políticos de
hoje, ele tem condições para acender a esperança do nosso povo tornando-se o
aglutinador da aliança apontada acima, única que pode tirar o Brasil do lamaçal
onde está atolado e leva-lo à posição que todos almejamos.
Sergio Augusto de Moraes é engenheiro e Conselheiro Vitalício do Clube
de Engenharia.
A campanha eleitoral já começou. É urgentíssima a definição de nomes e programas que unam as forças democráticas. A unidade é necessária para barrar os extremos populistas e autoritários, à esquerda e à direita. A imensa maioria do povo encontra-se órfã de uma referência renovadora e democrática. Essa não será uma eleição comum, em que se admita uma dispersão de votos de competidores democráticos num primeiro turno. É a própria Democracia que está ameaçada. Sergio Moraes avança na análise propositiva, voltada para a AÇÃO.
ResponderExcluirExcelente artigo, excelente proposta. As forças mais esclarecidas politicamente neste país podem ter um candidato forte à presidência se conseguirem construir um consenso em torno do senador Cristovam Buarque. Méritos e qualidades ele tem. Falta apoio.
ResponderExcluirÓtima avaliação. Cristovam é Luz neste breu do Congresso Nacional.
ResponderExcluirEmbora não me ocorra melhor nome que o aventado por meu xará Sérgio Moraes, parece-me remota a possibilidade da formação de um consenso das correntes de centro-esquerda em torno dele, assim como sua viabilidade eleitoral. Pior para o Brasil.
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