NAVIO NEGREIRO

"Se Castro Alves cantasse hoje seu poema "O navio negreiro" em praça pública, como seria? O rapper Slim Rimografia apresenta em livro sua versão musicada do poema que marcou a história da literatura brasileira, por se tornar um ícone da denúncia das injustiças contra os negros. Ilustrado com grafites do Grupo Opni, e acompanhado de textos informativos do professor e doutor José Luis Solazzi, especialista em abolicionismo escravista e movimentos sociais, esta obra revela que a luta contra o preconceito e a defesa da cultura afro-brasileira é responsabilidade de todos nós".(citado conforme TVPandaBooks - YouTube).

Seguem o poema e vídeo.

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Slim Rimografia (MC Valter)

Feliph Neo – Arranjo e Refrão

Agosto - 2022

 (REFRÃO)
Somos sonhos, somos luta
Fomos mão de obra barata
Somos arte, somos cultura
Somos ouro e somos prata
Somos índios, Somos negros
Somos brancos, somos afrodescendentes
Somos raça, somos povo
Somos tribo, somos gente
Somos sonhos, somos luta
Fomos mão de obra barata
Somos arte, somos cultura


Estamos em pleno mar, embarcações de ferro e aço
Onde pessoas disputam palmo a palmo por um espaço
Nesse imenso rio negro de piche e asfalto
Cristo observa tudo calado de braços abertos lá do alto
Onde a lei do silêncio impede que ecoe o grito do morro
Dos poetas em barracos sem forro, que clamam por socorro
Homens de pele escura, sem sobrenome importante
Filhos de reis e rainhas de uma terra tão distante
O mar separa o Brasil da África
Um rio separa as periferias das mansões de magnatas
Uniformes diferenciam funcionários de patrões
A cor denuncia vítimas antigas de explorações
Trazidos em porões e navios negreiros
Tratados como animais, vendidos a fazendeiros
Vivendo em cativeiros
Negociados como mercadoria
Enriquecendo a classe nobre, hoje chamada burguesia
Deixou pra trás dialetos e crença
Caçados, mortos e açoitados quem tentou resistência
Tratados como gado, sem direito à educação
Emudeceram seus tambores, amaldiçoaram sua religião
Alguns morreram de fome, de sede, de frio
Corpo magro, cheio de marcas e o estômago vazio
Me diz: Quem são os heróis e quem são os bandidos?
Quem merece honra, quem merece ser punido?
Quem lutou por liberdade, na história foi esquecido
Sem status, sem monumentos, só barracos foram erguidos



Somos sonhos, somos luta
Fomos mão de obra barata
Somos arte, somos cultura
Somos ouro e somos prata
Somos índios, Somos negros
Somos brancos, somos afrodescendentes
Somos raça, somos povo
Somos tribo, somos gente

Fomos tratados como nada, trazidos como bicho
Oprimidos e usados, dispensados como lixo
Temos muito que mudar, a história não acabou
Por cada vida que por liberdade, como Cristo, se sacrificou
Bisavós cuja a voz foi silenciada
E por nós sua luta não pode ser abandonada
O navio hoje é barca sem vela, só sirene
Navegando na estrada, hoje volante, ontem lemes
O porão é chiqueiro de camburão
Os chicotes e açoites trocados por cacetete e oitão
Senzala virou presídio, Quilombo é favela
Heróis: Malcolm X, Luther King, Zumbi e Mandela
Escravidão ainda existe em cada olhar triste nas esquinas
Nos becos e vielas, nos sonhos em ruínas
No esgoto a céu aberto, na criança desnutrida
Nas mãos que pedem esmola nas ruas e avenidas
Herdeiros da miséria dos escravos trazidos em navios
Soldados do breu em busca do brio
Filhos da pátria amada, idolatrada mãe gentil
Onde tu estavas que tamanha atrocidade não viu

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães
Outras, moças, mas nuas e espantadas
No turbilhão de espectros arrastadas


Somos sonhos, somos luta
Fomos mão de obra barata
Somos arte, somos cultura
Somos ouro e somos prata
Somos índios, Somos negros
Somos brancos, somos afrodescendentes
Somos raça, somos povo
Somos tribo, somos gente
Somos sonhos, somos luta
Fomos mão de obra barata
Somos arte, somos cultura


Tem um pouco de navio negreiro embaixo de cada viaduto
Em cada lágrima derramada, em cada mãe que veste luto
Tem um pouco de navio negreiro em cada mão que pede esmola
Em cada beco e viela, em cada criança longe da escola
Tem um pouco de navio negreiro na viola, no pandeiro
No atabaque, no cordel, na enxada e no tempeiro
Tem um pouco de navio negreiro na igreja, no terreiro
No santo, no orixá, na benzedeira e no obreiro
Tem um pouco de navio negreiro no crucifixo, no patuá
Na mulata, no crioulo e na cumbuca de Munguzá
Tem um pouco de navio negreiro na música, na poesia
Na dança, nas artes e em cada panela vazia
Tem um pouco de navio negreiro no futebol, no carnaval
No azeite de dendê, no acarajé e no código penal
Tem um pouco de navio negreiro no reflexo do espelho
Dos que lutaram e morreram pra não viver de joelho
Tem um pouco de navio negreiro em cada conquista, em cada vitória
Na pele, na memória, no coração, na minha e na sua história
Tem um pouco de navio negreiro


Somos sonhos, somos luta
Fomos mão de obra barata
Somos arte, somos cultura
Somos ouro e somos prata
Somos índios, Somos negros
Somos brancos, somos afrodescendentes
Somos raça, somos povo
Somos tribo, somos gente
Somos sonhos, somos luta
Fomos mão de obra barata
Somos arte, somos cultura

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Democracia Ameaçada - A Sociedade Civil se Mobiliza

NOTA DOS EDITORES:

Às vésperas das eleições, prosseguem no Brasil os ataques e ameaças às Instituições Democráticas. Com o título “Sobre o Momento Político” publicáramos neste Blog em maio último um chamamento à Sociedade Civil em defesa da democracia. Na ocasião declarávamos:

"A defesa da democracia precisa ser clamada, vocalizada, expressa em manifestações públicas, demonstrando o estado de prontidão dos democratas face às flagrantes ameaças atuais às instituições democráticas. Quem cala consente.

É um movimento que precisa caminhar em paralelo ao processo eleitoral, incorporando-o certamente, sem negá-lo, abrangendo os partidos, suas lideranças e candidatos. Mas indo muito além, focado naquilo que a todos une, muito acima dos imediatismos legítimos e normais da disputa eleitoral. Portanto, além da sociedade política, requer o protagonismo da sociedade civil."

Desde então têm-se multiplicado os manifestos da sociedade civil organizada, em marcha que possa vir a mobilizar todas as forças democráticas e as manifestações populares no espaço público.

Realça como exemplo a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, lançada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, que já se aproxima de 800 mil signatários. Apresentamo-la a seguir, e exortamos a todos assiná-la.

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Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!


Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos cursos jurídicos no país, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o estado democrático de direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais.

Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal.

Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular.

A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.

Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.

Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.

Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.

Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional.

Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão.

Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos às brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.

No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.

Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:

Estado Democrático de Direito Sempre!!!!

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Para assiná-la acessar o link:

https://www.estadodedireitosempre.com/